
Imagem: Naná Ywá
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Já fazia um tempo que eu queria escrever sobre algumas das minhas experiências em relação à minha maternagem com a Helena.
Escrevo esse texto desde um lugar muito pessoal, sem intenção nenhuma de dizer como se deve criar outro ser humane.
Sou uma mulher negra, feminista, graduanda em Licenciatura em História, mãe e imigrante. Fui morar em Buenos ainda com 4 meses de gestação, e com muito medo do viria pela frente. Eu e meu companheiro estávamos praticamente sozinhos.
Longe da minha família, pressionada para aprender na marra outro idioma, e com muitas dúvidas sobre maternidade (que seguem até hoje, e creio que me acompanharão por toda a vida), só pensava em como seria quando ela nascesse, pois a verdade é que eu achava que não estava preparada para ser mãe.
No dia 22 de junho de 2017, tive pressão alta – o que já estava me perseguindo há uma longa semana. Meu obstetra decidiu que o melhor era me internar e induzir o parto. Eu estava com 38 semanas e 6 dias, já quase no fim da gestação, e essa noticia foi como um golpe: “Como assim? Antecipar? Induzir?” Ficamos em choque. Lembro que sentamos no pátio do hospital e comemos três doces. Nesse mesmo dia, fiquei internada e, no dia seguinte, depois de 12h de exaustivo trabalho de parto, nasceu Helena.
Quando ela saiu de dentro de mim, colocaram-na em meu peito até que parasse de pulsar o cordão umbilical. Ela não chorou. Abriu os olhos, bocejou e voltou a dormir. Nem quis mamar. Quando ví que ela estava bem, eu só pensava e só queria uma coisa: descansar. É impressionante, como ninguém fala sobre isso. Sim eu precisava descansar. Nós, mães, somos o tempo todo cobradas de quais devem ser as nossas atitudes em relação aos nossxs filhxs: “ah , mais duvido que você não queria era estar com sua bebê nos seus braços de uma vez” Sinceramente. Não. Eu sabia que ela estava sendo muito bem cuidada. Além de estar com o pai, estava também com uma equipe incrível da neonatologia. Eu queria mesmo era comer, dormir e descansar.
Ficamos no hospital por sete dias, e por mais exausta que eu estivesse, tive um grande suporte no hospital, com enfermeiras, pediatras e neonatólogos incríveis. Quando chegamos em casa, era outra coisa. Éramos só nós três. Foi um começo muito difícil, e eu me perguntava: “e agora, o que faço?”. A primeira noite em casa foi um pouco tranquila. Sem muito choro, só o cansaço de levantar a cada 3 hoas para trocar fralda e amamentar, como já vinha fazendo desde o hospital. A partir da segunda noite em casa, a coisa começou a ficar feia. Helena chorava quase todo tempo e depois parava, como se nada tivesse acontecido. Cheguei a ficar 48 horas sem dormir. Eu ligava pra minha mãe e dizia que não servia pra isso, que não queria ser mãe, que eu não sabia o que fazer. E minha mãe, por sua vez, dizia que era assim mesmo, que isso era normal, e que eu também era assim quando bebê (morria de cólicas). Então minha mãe conseguiu vir para Buenos Aires nos ajudar. Foram 12 dias de respiro. No dia em que ela foi embora, apenas alguns minutos depois, Helena começou a chorar, outra vez, deseperadamente, e eu comecei a chorar junto com ela.
Naquele momento, acredito que começou de verdade a nossa relação. Eu conversei com ela: “filha, a mamãe não sabe o que está fazendo, eu estou aprendendo a cuidar de você, só preciso que você tenha paciência comigo. Não chora, vou te fazer uma massagem na barriguinha e a dor vai passar, mas, por favor, não chora”. E ela parou. Foi incrível. De aí por diante, comecei a ouvir e a entender os choros dela, então eu conversava sempre.,
Não é fácil maternar, principalmente quando a gente já vem carregada de estereótipos sobre a maternidade:
“Ser mãe é divino”, “Nada melhor que ter filhxs”, “Filhxs são uma benção”, “Não tem nada melhor no mundo do que ser mãe”.
Essa maternidade romantizada nos faz mal.
Sim, minha filha foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Mas tive que parar meus estudos, não durmo direito há dois anos e meio (a contar pelas ultimas semanas de gestação), ando sempre muito cansada, e sinto que estou o tempo todo negociando. A maternidade é um trabalho não remunerado de 24 horas por dia, sem férias e nem décimo terceiro.
“Mas Dani, só tem coisa ruim na maternidade?”
Claro que não. O que estou dizendo é que a maternidade real não é a que nos pintam sempre.
Eu fico feliz com cada palavra nova que ela aprende, com cada frase que ela forma, e me enche de orgulho quando, todas as vezes que ela come alguma coisa, ela oferece para outrxs.
O sorriso doce que ela tem enche meu coração de paz e alegria.
Estou a dois anos criando uma criança feminista para esse mundão que a espera. Um mundo machista, onde o patriarcado ainda está longe de acabar; um mundo que só pelo fato de ser mulher, ela pode ser peseguida, violentada e sofrer todos os tipos de violências de gênero. Ela será mais uma para lutar contra esse patriarcado que nos persegue e mata cotidianamente.
Todos os dias, tento na pratica ensinar à Helena sobre igualdade, diversidade, respeito, direitos e deveres. Não tem sido fácil. Educar é muito trabalhoso e requer muita paciência diária. É preciso entender que há outre indívidue, com suas próprias particularidades, que tem de ser respeitadas. Só porque sou a mãe não é justo impor a ela certas coisas como, por exemplo, dar um beijo no coleguinha da mamãe que ela nem conhece e não quer, ou obriga-la a dar um abraço no tio que ela vê a cada tantos meses. Eu, como mãe, tenho que saber respeitar esses limites, que são os limites dela. Ensinar a respeitar os mais velhos e a ser educada não tem nada a ver com obrigar ela a abraçar e beijar quem ela não sente vontade, ou mesmo fechar as pernas, porque ela é uma menina.
E porque eu intitulo o texto dizendo maternar é político?
Mulheres como eu, que fogem da educação tradicional do “eu mando e você obedece”, e que optam pela educação pautada no respeito ao espaço individual e da escuta, estamos quase o tempo todo “erradas” sobre a forma como essa criança está sendo educada. Diversas vezes me perguntaram se Helena era menino, e o porquê de ela não usar brincos. Para a primeira pergunta, sempre respondi que ela é uma criança. E para a segunda, digo que o dia em que ela me pedir para furar a orelha porque quer usar brincos, vou explicar que sim dói (porque as pessoas dizem que em bebês não dói), mas se ainda assim ela quiser furar, vamos fazê-lo.
Eu crio a minha filha da melhor maneira que posso, ensinando-lhe a ser livre. Por essas e outras coisas que maternar é um ato político.
.À Helena.
Filha, eu te amo!

Maternar es político
Imagen: Naná Ywá
Traducción: Maria Pilar Cabanzo
Hacía tiempos que quería escribir sobre algunas de mis experiencias de maternidad con Helena.
Escribo este texto desde un lugar muy personal, sin ninguna intención de decir cómo debe criarse otro ser humane.
Soy una mujer negra, feminista, cursante de Licenciatura en Historia, madre e inmigrante. Me trasladé a Buenos Aires cuando tenía 4 meses de embarazo y llena de miedo de lo que vendría a continuación. Mi compañero y yo estábamos prácticamente solos.
Estando lejos de mi familia, teniendo que aprender a la fuerza otro idioma y con muchas dudas sobre la maternidad (las cuales persisten hasta hoy y creo que me acompañarán toda la vida), sólo pensaba cómo sería cuando ella naciera, pues, en verdad, me parecía que no estaba preparada para ser madre.
El 22 de junio de 2017 se me subió la presión – como me sucedía hacía una semana. Mi obstetra decidió que lo mejor sería internarme e inducir el parto. Tenía 38 semanas y 6 días, estaba casi al final del embarazo y esa noticia fue como un golpe: “¿cómo así? ¿anticipar? ¿inducir?” Quedamos en shock. Recuerdo que nos sentamos en la sala del hospital y nos comimos tres facturas. Ese mismo día me internaron y al día siguiente, luego de 12 horas de un trabajo de parto extenuante, Helena nació.
Cuando ella salió de dentro de mí, la colocaron en mi pecho hasta que el cordón umbilical parara de latir. Ella no lloró. Abrió los ojos, bostezó y volvió a dormir. Ni pidió teta. Cuando vi que ella estaba bien, solo pensaba y solo quería una cosa: descansar.
Es impresionante que nadie hable sobre eso.
Sí, necesitaba descansar. A las mamás se nos exige todo el tiempo tener ciertas actitudes con nuestrxs hijxs: “ah, seguro querés estar con tu bebé de una vez”. Sinceramente, no. Sabía que la estaban cuidando muy bien. Además del papá, también la cuidaba un equipo increíble de neonatología. Yo realmente quería comer, dormir y descansar.
Nos quedamos en el hospital siete días, y, por más exhausta que estaba, las enfermeras, pediatras y neonatólogos increíbles me apoyaron mucho. Cuando volvimos a casa, fue distinto. Éramos apenas nosotros tres. Al inicio fue muy difícil, me preguntaba: “¿y ahora qué hago?”. La primera noche en casa fue un poco tranquila. Helena no lloró mucho, y yo apenas tuve que levantarme cada 3 horas para cambiar pañales y amamantar, como ya lo estaba haciendo en el hospital. Desde la segunda noche en casa, la cosa se puso fea. Helena lloraba casi todo el tiempo y de repente paraba, como si nada. Pasé 48 horas sin dormir. Llamaba a mi mamá y le decía que yo no servía para eso, que no quería ser mamá, que no sabía qué hacer. Y mi madre, a su turno, me decía que era así, que eso era normal, que yo también era así cuando bebé (sufría de cólicos). Entonces mi mamá logró venir a Buenos Aires para ayudarnos. Fueron 12 días de alivio. Algunos minutos después de que mi mamá se fue, Helena comenzó a a llorar, otra vez, desesperadamente, y yo también comencé a llorar, a su lado. Creo que nuestra relación comenzó de verdad en aquel momento. Le dije: “hija, mamá no sabe lo que está haciendo, estoy aprendiendo a cuidarte, necesito que seas paciente conmigo. No llores, voy a darte un masaje en la pancita y el dolor te va a pasar, pero, por favor, no llores”. Y ella paró. Fue increíble. En adelante, comencé a oír y entender el llanto de Helena, comencé a conversar con ella.
No es fácil maternar, principalmente cuando venimos cargadas de estereotipos sobre la maternidad:
“Ser mamá es sagrado”, “No hay nada mejor que tener hijxs”, “Lxs hijxs son una bendición”, “No hay nada mejor en el mundo que ser mamá”.
Esta maternidad romantizada nos hace daño.
Sin duda mi hija fue lo mejor que me sucedió en la vida. A cambio, tuve que dejar los estudios, no duermo bien hace dos años y medio (contando las últimas semanas de embarazo), siempre estoy muy cansada y siento que todo el tiempo estoy negociando. La maternidad es un trabajo no remunerado de 24 horas por día, sin vacaciones ni gratificaciones.
“Pero, Dani, ¿la maternidad solo tiene cosas malas?”
Claro que no. Lo que quiero decir es que la maternidad real no es como la pintan.
Me hace feliz cada palabra nueva que Helena aprende, cada frase que forma y me da mucho orgullo ver que ella siempre le ofrece a otrxs lo que come.
Su sonrisa dulce me llena el corazón de paz y alegría.
Hace dos años crío una chica feminista para este mundo que la espera. Un mundo machista, donde el patriarcado está lejos de acabar, un mundo en el que, por el solo hecho de ser mujer, Helena puede ser perseguida, violentada y sufrir todos los tipos de violencias de género. Ella será una más en la lucha contra el patriarcado que nos persigue y nos mata cotidianamente.
Todos los días intento enseñarle a Helena, a través de la práctica, sobre igualdad, diversidad, respeto, derechos y deberes. No ha sido fácil. Educar es muy penoso y requiere mucha paciencia diaria. Es necesario entender que es otre individue, con sus particularidades, que tienen que ser respetadas. Apenas porque soy la mamá no es justo imponerle ciertas cosas, como, por ejemplo, darle un besito al compañero de trabajo de la mamá u obligarla a darle un abrazo al tío que no ve hace meses.
Como mamá, tengo que saber respetar esos límites, que son los límites de Helena. Enseñarle a respetar a los más viejos y ser educada no tiene nada que ver con obligarla a abrazar y darle besitos a alguien si ella no se siente cómoda con eso, o incluso obligarla a cerrar las piernas por el hecho de ser niña.
¿Y por qué titulo el texto diciendo que maternar es político?
Mujeres como yo, que huyen de la educación tradicional de “yo mando, tú obedeces” y que eligen la educación guiada por el respeto al espacio individual y a la escucha, estamos casi todo el tiempo “equivocadas” sobre la forma como estamos educando nuestrxs hijxs. Muchas veces me preguntaron si Helena era niño y el motivo por el cual ella no usaba aritos. A la primera pregunta, siempre respondí que ella era infante. A la segunda, digo que el día que Helena quiera perforar las orejas para poder usar aritos, le diré que en realidad duele (la gente dice que a los bebés no les duele), y si aun así ella quiere ponerse aritos, vamos a hacerlo.
Crío a mi hija lo mejor que puedo, para enseñarle a ser libre. Por esas y otras cosas, maternar es un acto político.
Para Helena.
¡Te amo, hija!
Dani Santana, feminista, mãe da Helena, graduanda em história e criada na favela de Getúlio Cabral em Duque de Caxias. Começou sua trajetória de militância no Movimento Estudantil, em 2011 foi eleita a primeira presidenta mulher negra da Juventude Socialista Brasileira, e em 2013 iniciou sua militância no Movimento Feminista. Em 2014, articulou, junto a companheirxs da coordenadoria de juventude de Duque de Caxias, o plano municipal de combate ao extermínio da juventude negra.
excelente vivência! cheia de amor, de paciência, de dúvidas (como são todas as vivências reais), de medos, e de vontade, coragem, ilusão, e muita, mas muita força. Parabéns!