
Arte: @lat.inaarte
Ir al artículo en español
A Pandemia da COVID19 parece ter aberto os portais para aceleração do tempo. Não do tempo do relógio, já que os ponteiros seguem girando na mesma velocidade. A aceleração acontece na sensação da passagem do tempo, sensação de que muito do que sabíamos se torna obsoleto mais rapidamente do que somos capazes de mudar, sensação originada por rápidas mudanças no modo de viver, de se relacionar e de estabelecer conexões à partir de caminhos novos – ou nem tão novos assim – agora generalizadamente impostos a todes.
A interação virtual compulsória que tomou conta de nosso cotidiano explodiu exatamente no momento em que as conexões presenciais se viram bloqueadas pelas orientações de isolamento social e distanciamento indicadas como principais ferramentas para contenção do alastramento da COVID19, sobretudo em países como o Brasil, em que os governos municipais e estaduais foram extremamente lentos em tomar medidas e onde o governo nacional mantém ainda agora uma postura negacionista que não reconhece o agravamento da situação das crises econômica, social e política que se arrastam aprofundando-se há anos e às quais se soma mais uma camada com a crise sanitária.
Como militantes e ativistas, nós desejamos mudanças estruturais já que a sociedade em que vivemos é injusta e terrivelmente desigual, mas mudança, em si, não quer dizer algo positivo: as mudanças sempre podem ocorrer para uma situação melhor ou pior. Quando estamos no meio da tormenta, no olho do furacão, é mais difícil entender para que direção a mudança seguirá, ainda mais quando ela desaba vertiginosamente sobre nossos corpos. Por isso, estar no olho do furacão implica lutar, com todas as ferramentas possíveis, para que as mudanças sejam para melhor, disputando o rumo das mudanças em curso no sentido de nos aproximarmos dum mundo melhor, diverso, equânime, justo.
As lutas que temos construído ao longo dos tempos começam quase sempre quando conseguimos nos enxergar, criar relações de confiança entre nós e atuar coletivamente sobre as mazelas, objetivando sua superação. O olho no olho, o pé no barro, o corpo presente, a regularidade e permanência da solidariedade ativa são elementos essenciais para que este processo possa se realizar com substância, para que a nossa união na luta ocorra com a liberdade das diferenças e a cumplicidade dos sonhos compartilhados. Todo este processo sofre um abalo sísmico quando não podemos nos encontrar presencialmente, quando as manifestações e protestos se tornam ao mesmo tempo necessários e delineados por medidas preventivas bastante restritas.
O que fazer diante deste cenário? Como reinventar os ingredientes que antes compunham nosso caminho para a construção coletiva?
Podemos reclamar, paralisar, sentir nostalgia em relação ao passado ou podemos coletar, do centro da tormenta, sinais e pistas que nos auxiliem a reinventar-nos e a reinventar maneiras de seguir sonhando coletivamente contra o capitalismo, contra o colonialismo e contra o patriarcado.
O cenário brasileiro
Segundo a TIC Domicílios 2019, no Brasil, 26% da população não tem acesso à internet. Uma em cada quatro pessoas está privada por diferentes motivos de relacionar-se de modo digital com outras pessoas, serviços e possibilidades de interação.
Quando nos dedicamos a verificar o perfil da população offline somos levados inevitavelmente a vislumbrar algumas das razões que constituem o apartheid virtual: em regiões urbanas, 33% não tem acesso enquanto nas áreas rurais o percentual aumenta para 53% (1). Na sociedade de classes e num país racista como o nosso é de se esperar que existam diferenças acentuadas pela localização nos extratos econômico-sociais e originadas em diferenças étnico-raciais: entre pessoas brancas, 75% possuem acesso enquanto entre pessoas indígenas o acesso cai para 65%. Entre pessoas que ganham de 3 a 5 salários mínimos o percentual de acesso é de 86% ao passo em que, entre a população que ganha menos que um salário mínimo, esse percentual cai para 61% (2).
Com a marca colonial que nos atravessa não apenas nas relações internacionais entre os países mas também se reproduz no espaço nacional e, em 2018, dos domicílios concentrados nas zonas urbanas das regiões sudeste e centro-oeste, 86% tinham acesso à internet enquanto que não chegava a 45% nas áreas rurais do nordeste e giravam em torno de 33% na zona rural do norte do país.
Há muita gente, milhões de pessoas, sobretudo as mais pobres, as indígenas, as que vivem em áreas distantes das grandes metrópoles urbanas que têm suas vidas ainda mais invisibilizadas pela desigualdade no acesso à internet, o que se agrava com a intensificação das conexões digitais. Há muita vida offline que carece do mundo mudado que almejamos e que não encontraremos nas redes sociais – que é o acesso majoritário dos setores populares à rede através, sobretudo, de aparelhos celulares.
Dificuldades
Para a militante Daniela Almeida Embón, do movimento Luta Popular, as maiores dificuldades com a pandemia dizem respeito exatamente à impossibilidade de realizar, como antes as atividades corpo-a-corpo.
“A maior dificuldade que eu vejo é a de não poder construir mobilizações de rua e protestos, que tem a ver com a pandemia, mas também tem a ver com setores que já secundarizavam os protestos presenciais e se escoram nisso para fazer menos ainda”.
Já para Sandra Silva, referência na Ocupação Jardim da União (Grajaú, São Paulo), as dificuldades da militância se confundem com as dificuldades da vida cotidiana dos moradores de ocupações, favelas e periferias.
“O desemprego está muito grande, as dificuldades financeiras de todo mundo. Nas ocupações, embora não tenha o problema do aluguel, tem os outros, comprar comida, por exemplo, e a gente vivencia as dificuldades do bairro ao redor pedindo ajuda, pedindo espaço na ocupação, porque não conseguem pagar aluguel e comer. Além da doença mesmo porque há muita gente ainda contaminada e muito pobre morrendo”.
Na Ocupação Esperança (Osasco, São Paulo), as maiores dificuldades também se confundem com o cotidiano de arbitrariedades e violações que acometem os moradores de periferia desde sempre e que pareceram se agravar com o aumento da letalidade policial (3) em plena pandemia. A dificuldade de deslocamento de apoiadores e apoiadoras transforma o isolamento social um isolamento político para comunidades que seguem sofrendo terríveis violências.
Possibilidades
Mas, como sempre, o povo que mais sofre reinventa a própria existência a partir daquilo que consegue garimpar de positivo em realidades adversas. Para muitas mulheres militantes, as relações virtuais abriram também algumas possibilidades como a mobilização solidária de pessoas que – mesmo à distância – buscaram formas de colaborar material e politicamente com as lutas protagonizadas por quem tem a vida mais vulnerabilizada. Segundo Daniela, o movimento conseguiu articular campanhas que permitiram comunicar as lutas a muito mais gente e se conectar com novos apoiadores e apoiadoras. Essa é também a opinião de Sandra, embora ela observe uma diminuição na solidariedade mais ampla que se mobilizou no momento inicial da pandemia. Para Mara Sales Soares, referência na Ocupação Esperança, houveram também outras questões:
“Para a gente que é mulher, o zap sempre tem sido uma ferramenta pra ficar sabendo das coisas e se organizar. A gente tem muito trabalho em casa, nem sempre consegue estar em todas as reuniões mesmo sem pandemia, então o zap já funcionava um pouco pra gente se ajudar, no grupo de mulheres, sempre que acontecem coisas importantes pra nossa luta, alguém manda mensagem e com a pandemia o número de mulheres no nosso grupo aumentou […] A gente conseguiu fazer reuniões com mulheres de ocupações de outros estados, que a gente nunca tem dinheiro pra visitar, e isso foi muito bom porque às vezes o jeito de resolver as coisas num lugar dá ideia pra gente resolver o mesmo problema na nossa comunidade”.
Efetivamente as redes sociais já vem produzindo alterações profundas no modo de organização há algum tempo. Se nos lembrarmos das primeiras grandes manifestações contra o aumento da tarifa de transporte público em 2013, encontraremos um momento em que a convocação virtual para participação nos protestos de rua adquiriu certa relevância, ainda que não tenha sido nunca uma expressão exata da realidade nas ruas. Foi assim também com os rolezinhos.
A possibilidade de se comunicar diretamente com a população que pode vir a integrar a base das lutas de movimentos sociais sem ter que passar pela chancela das direções políticas deste movimentos parece ter sido rapidamente captada pela direita conservadora, reacionária e por setores fascistas que passaram a explorar essa abertura construindo verdadeiros aparatos digitais com robôs, perfis falsos e difusão de fake News. Contando com o financiamento e inspiração do imperialismo americano – que demonstrou ao mundo a força de tais aparatos na campanha presidencial que elegeu Trump – as direitas conservadoras e fascistas de todo o mundo tem explorado as possibilidades abertas com a interação virtual para proliferar o ódio, o medo e a intolerância – elementos fundamentais de seu projeto político genocida que, no entanto, encontra na ponta, muitas vezes, um receptor de informações desprovido de escolarização e de meios para acessar/buscar notícias e leituras críticas da realidade.
Talvez, um desafio que agora se impõe com a nova realidade, seja o da construção de ativismos híbridos, que se atentem a compreender as dinâmicas da interação digital e que desenvolvam estruturas de atuação que possam disputar (ainda que em condições radicalmente desiguais, como é sempre) as janelas abertas com a pandemia. Comunicadores e comunicadoras populares que nem sempre tiveram suas ações e produções valorizadas como importantes para a construção política das lutas são fonte de saberes que podem nos auxiliar neste caminho.
As redes sociais mais utilizadas pelo povo mais pobre não podem ser simplesmente abandonadas pelo excesso de desinformação que impulsionam, precisam ser disputadas, precisam de maior presença digital dos posicionamentos críticos ao sistema capitalista e também de comunicação simples e direta que além de comunicar proponha o questionamento da ordem e das explicações negacionistas das direitas.
Por outro lado, novas maneiras de interação presencial estão sendo agora mesmo gestadas. A experiência das organizações políticas que se constituíram em momentos de clandestinidade talvez possam dar-nos algumas pistas de como reunir pequenos grupos de pessoas para conversas, trocas, momentos de formação e reflexão coletiva que se dão nos quintais, nas garagens e nas casas onde estão, sobretudo, aqueles e aquelas mais atingidos pelo apartheid digital.
Como nas “células” organizativas – por segurança sanitária – o contato físico pode acontecer somente entre um número restrito de pessoas, cada ativista pode ter entre suas principais tarefas a de acompanhar a situação do pequeno grupo, de debater, de informar, de provocar reflexões críticas, assim como pode zelar pelo cuidado com as normas de restrição, sendo ao mesmo tempo agente de organização política silenciosamente enraizada e agente da preservação da saúde de quem está alijado de receber orientações pelas vias digitais.
Num momento de encontros presenciais raros talvez possamos recuperar o seu valor e atuar para fazer deles – com cautela e todos os cuidados sanitários possíveis – um momento precioso de conspiração coletiva.
Este é, para mim, o espírito do trabalho de base que precisa ser recuperado: com contrapartida a essa forte presença digital, se faz necessária uma presença enraizada no cotidiano das pessoas a quem temos convidado a produzir mundo novo junto conosco. Trabalho de base com mais raízes e menos propaganda vazia.
Numa outra dimensão, fica mantida a necessidade e a possibilidade de organizar aquelas e aquelas que desejem participar de manifestações de rua. As pessoas tem sido lançadas à altíssima exposição pela injustiça característica do capital evidenciada pela crise. Porque não podem escolher quando vale a pena se arriscar? Porque finalmente já não consigo acompanhar de casa os despejos de famílias sem teto e nem os sucessivos assassinatos de meninos pretos gerando revolta. As mulheres da Polônia me inspiram, assim como o povo da NIgéria e uma vez mas, las mulheres contra o patriarcado e o povo negro contra o racismo e sua fonte colonial nos oferecem caminhos.
As ruas estão sendo retomadas pouco a pouco, seja agora pela negligência genocida de estados como o Estado brasileiro ou seja em algum tempo, com a chegada da vacina. O significado dessa retomada, no entanto, está sendo produzido agora mesmo, com todas as iniciativas que disputam a narrativa de como chegamos até este colapso e sobre como podemos sair dessa situação apontando caminhos para a emancipação da vida humana e da vida em geral.
.
Apartheid digital y activismos híbridos: desafíos de la militancia en tiempos de distancia física
Por Helena Silvestre
La pandemia COVID19 parece haber abierto la puerta a acelerar el tiempo. No es la hora del reloj, ya que las manecillas siguen girando a la misma velocidad. La aceleración ocurre en la sensación del paso del tiempo, sensación de que mucho de lo que sabíamos se vuelve obsoleto más rápidamente de lo que somos capaces de cambiar, sensación originada por cambios rápidos en la forma de vivir, de relacionarnos y de establecer conexiones desde caminos. nuevo, o no tan nuevo, ahora generalmente impuesto a todos.
La interacción virtual obligatoria que se apoderó de nuestra vida cotidiana explotó justo cuando las conexiones cara a cara fueron bloqueadas por las pautas de aislamiento social y desapego señaladas como las principales herramientas para contener la propagación de COVID19, especialmente en países como Brasil, donde Los gobiernos municipales y estatales fueron extremadamente lentos para actuar y donde el gobierno nacional aún mantiene una postura negacionista que no reconoce el agravamiento de la situación de las crisis económicas, sociales y políticas que se vienen arrastrando desde hace años y a las que se suma otra capa con la crisis de salud.
Como activistas y activistas, queremos cambios estructurales ya que la sociedad en la que vivimos es injusta y terriblemente desigual, pero el cambio, en sí mismo, no significa algo positivo: los cambios siempre pueden ocurrir para una situación mejor o peor. Cuando estamos en medio de la tormenta, en el ojo del huracán, es más difícil entender qué dirección tomará el cambio, más aún cuando cae precipitadamente sobre nuestros cuerpos. Por tanto, estar en el ojo del huracán implica luchar, con todas las herramientas posibles, para que los cambios sean a mejor, disputando la dirección de los cambios en curso para acercarnos a un mundo mejor, diverso, equitativo y justo.
Las luchas que hemos construido a lo largo de los años casi siempre comienzan cuando podemos vernos a nosotros mismos, crear relaciones de confianza entre nosotros y actuar colectivamente sobre los problemas, con el objetivo de superarlos. El ojo en el ojo, el pie en la arcilla, el cuerpo presente, la regularidad y permanencia de la solidaridad activa son elementos esenciales para que este proceso se dé con sustancia, para que nuestra unión en la lucha se dé con la libertad de las diferencias y la complicidad. de sueños compartidos. Todo este proceso sufre un impacto sísmico cuando no podemos reunirnos en persona, cuando las manifestaciones y protestas se vuelven necesarias y delimitadas por medidas preventivas muy estrictas.
¿Qué hacer ante este escenario? ¿Cómo reinventar los ingredientes que solían dar paso a la construcción colectiva?
Podemos reclamar, paralizarnos, sentir nostalgia del pasado o podemos recoger, desde el centro de la tormenta, señales y pistas que nos ayuden a reinventarnos y reinventar formas de seguir soñando colectivamente contra el capitalismo, contra el colonialismo y contra el patriarcado.
El escenario brasileño
Según TIC Domicilios 2019, en Brasil, el 26% de la población no tiene acceso a internet. Una de cada cuatro personas se ve privada por diferentes motivos de relacionarse digitalmente con otras personas, servicios y posibilidades de interacción.
Cuando nos dedicamos a revisar el perfil de la población offline, inevitablemente nos vemos llevados a vislumbrar algunas de las razones que constituyen el virtual apartheid: en las regiones urbanas el 33% no tiene acceso mientras que en las rurales el porcentaje aumenta al 53% (1). En la sociedad de clases y en un país racista como el nuestro, es de esperar que existan marcadas diferencias por la ubicación en los estratos económicos y sociales y que se originen en diferencias étnico-raciales: entre los blancos, el 75% tiene acceso mientras que entre los indígenas el acceso cae a sesenta y cinco%. Entre las personas que ganan de 3 a 5 salarios mínimos, el porcentaje de acceso es del 86%, mientras que entre la población que gana menos de un salario mínimo, este porcentaje desciende al 61% (2).
Con la marca colonial que nos atraviesa no solo en las relaciones internacionales entre países sino que también se reproduce en el espacio nacional y, en 2018, de los hogares concentrados en las áreas urbanas de las regiones sureste y centro-oeste, el 86% tuvo acceso a internet mientras alcanzó el 45% en las zonas rurales del noreste y estuvo alrededor del 33% en las zonas rurales del norte del país.
Hay mucha gente, millones de personas, sobre todo los más pobres, los indígenas, los que viven en zonas alejadas de las grandes metrópolis urbanas que tienen la vida aún más invisible debido a la desigualdad en el acceso a internet, agravada por la intensificación de las conexiones digitales. . Hay mucha vida offline que carece del mundo cambiado al que aspiramos y que no encontraremos en las redes sociales, que es el acceso mayoritario de los sectores populares a la red a través, sobre todo, de teléfonos móviles.
Dificultades
Para la militante Daniela Almeida Embón, del movimiento Luta Popular, las mayores dificultades con la pandemia se refieren precisamente a la imposibilidad de realizar, como antes, actividades cuerpo a cuerpo.
«La mayor dificultad que veo es la de no poder construir movilizaciones y protestas callejeras, que tiene que ver con la pandemia, pero también tiene que ver con sectores que ya tienen secundarios a las protestas cara a cara y dependen de ella para hacer aún menos».
Para Sandra Silva, una referencia en la Ocupación Jardim da União (Grajaú, São Paulo), las dificultades de la militancia se confunden con las dificultades de la vida cotidiana de los residentes de ocupaciones, barrios marginales y periferias.
“El desempleo es muy alto, las dificultades económicas de todos. En las ocupaciones, aunque no hay problema con el alquiler, hay otras, comprando comida, por ejemplo, y vivimos las dificultades del vecindario aledaño pidiendo ayuda, pidiendo espacio en la ocupación, porque no pueden pagar el alquiler y comer. Además de la enfermedad, porque todavía hay mucha gente infectada y muy pobres están muriendo ”.
En Ocupação Esperança (Osasco, São Paulo), las mayores dificultades también se confunden con la vida cotidiana de arbitrariedades y violaciones que siempre han afectado a los residentes periféricos y que parecían agravarse con el aumento de la letalidad policial (3) en medio de una pandemia. La dificultad de desplazar a los simpatizantes hace del aislamiento social un aislamiento político para las comunidades que continúan sufriendo una terrible violencia.
Posibilidades
Pero, como siempre, las personas que más sufren reinventan su propia existencia en base a lo que pueden encontrar positivo en realidades adversas. Para muchas mujeres activistas, las relaciones virtuales también han abierto algunas posibilidades, como la movilización solidaria de personas que, incluso a distancia, buscaron formas de colaborar material y políticamente con las luchas de quienes tienen vidas más vulnerables. Según Daniela, el movimiento logró articular campañas que permitieron comunicar las luchas a muchas más personas y conectar con nuevos simpatizantes. Esta es también la opinión de Sandra, aunque nota una disminución en la solidaridad más amplia que se movilizó en el momento inicial de la pandemia. Para Mara Sales Soares, referencia en Ocupação Esperança, también hubo otros problemas:
“Para las personas que son mujeres, zap siempre ha sido una herramienta para conocer las cosas y organizarse. Tenemos mucho trabajo en casa, no siempre podemos estar en todas las reuniones incluso sin una pandemia, entonces el zap ya nos sirvió un poco para ayudarnos, en el grupo de mujeres, siempre que suceden cosas importantes en nuestra lucha, alguien envía un mensaje y con la pandemia aumentó el número de mujeres en nuestro grupo […] Logramos mantener reuniones con mujeres de ocupaciones en otros estados, que nunca tenemos dinero para visitar, y eso fue muy bueno porque a veces la forma de resolver las cosas en un solo lugar nos dan una idea para resolver el mismo problema en nuestra comunidad ”.
De hecho, las redes sociales vienen produciendo cambios profundos en la forma de organización desde hace algún tiempo. Si recordamos las primeras grandes manifestaciones contra el aumento de las tarifas del transporte público en 2013, nos encontraremos con un momento en el que la convocatoria virtual a la participación en las protestas callejeras adquirió cierta relevancia, aunque nunca fue una expresión exacta de la realidad en las calles. Así fue con los rolezinhos.
La posibilidad de comunicarse directamente con la población que puede pasar a formar parte de la base de las luchas de los movimientos sociales sin tener que pasar el sello de las direcciones políticas de estos movimientos parece haber sido captada rápidamente por la derecha conservadora, reaccionaria y por sectores fascistas que empezaron a explotar. esta apertura mediante la construcción de verdaderos dispositivos digitales con robots, perfiles falsos y la difusión de noticias falsas. Contando con el financiamiento y la inspiración del imperialismo estadounidense -que demostró al mundo la fuerza de tales aparatos en la campaña presidencial que eligió a Trump- los derechos conservadores y fascistas del mundo entero han explorado las posibilidades abiertas con la interacción virtual para proliferar el odio, la Miedo e intolerancia – elementos fundamentales de su proyecto político genocida, que, sin embargo, a menudo encuentra en la punta un destinatario de información que carece de escolaridad y de medios para acceder / buscar noticias y lecturas críticas de la realidad.
Quizás, un desafío que ahora se impone con la nueva realidad, es la construcción de activismos híbridos, que se fijen en entender la dinámica de la interacción digital y que desarrollen estructuras de desempeño que puedan disputar (aunque en condiciones radicalmente desiguales, como es el caso). siempre) ventanas abiertas con la pandemia. Los comunicadores y comunicadores populares que no siempre han tenido sus acciones y producciones valoradas como importantes para la construcción política de las luchas son una fuente de conocimiento que puede ayudarnos en este camino.
Las redes sociales más utilizadas por los más pobres no pueden simplemente ser abandonadas por el exceso de desinformación que impulsan, necesitan ser disputadas, necesitan una mayor presencia digital de las posiciones críticas al sistema capitalista y también de una comunicación sencilla y directa que además de comunicar propone el cuestionamiento. del orden y las explicaciones negacionistas de los derechos.
Por otro lado, ahora mismo se están desarrollando nuevas formas de interacción cara a cara. La experiencia de organizaciones políticas que se crearon en tiempos de clandestinidad tal vez nos dé algunas pistas de cómo reunir pequeños grupos de personas para conversaciones, intercambios, momentos de formación y reflexión colectiva que se desarrollan en los patios traseros, cocheras y casas donde se ubican, sobre todo, aquellos más afectados por el apartheid digital.
Al igual que en las “células” organizacionales – para la seguridad de la salud – el contacto físico solo puede ocurrir entre un número limitado de personas, cada activista puede tener entre sus principales tareas monitorear la situación del pequeño grupo, debatir, informar, provocar reflexiones críticas, además de poder cuidar las reglas de restricción, siendo a la vez agente de organización política enraizada silenciosamente y agente de preservación de la salud de quienes quedan excluidos de recibir orientación a través de los canales digitales.
En un momento de raras reuniones cara a cara, es posible que podamos recuperar su valor y actuar para hacer de ellos, con cuidado y toda la atención médica posible, un momento precioso de conspiración colectiva.
Este es, para mí, el espíritu de trabajo básico que hay que recuperar: a cambio de esta fuerte presencia digital, es necesario tener una presencia arraigada en el día a día de las personas a las que hemos invitado a producir un mundo nuevo con nosotros. Trabajo de base con más raíces y menos publicidad vacía.
En otra dimensión, se mantiene la necesidad y posibilidad de organizar a quienes deseen participar en manifestaciones callejeras. La gente se ha visto expuesta a un nivel muy alto por la injusticia característica del capital evidenciada por la crisis. ¿Por qué no pueden elegir cuando vale la pena arriesgarse? Porque finalmente ya no puedo seguir en casa mirando de lejos los desalojos de familias sin hogar y los sucesivos asesinatos de niños negros generando revueltas. Las mujeres de Polonia estan en las calles así como el pueblo de NIgeria y una vez más, las luchas pa que se caiga el patriarcado y las luchas pa exterminar el colonialismo y el racismo de la vida nos ofrecen caminos.
Las calles se retoman poco a poco, ya sea por la negligencia genocida de estados como el Estado brasileño, o en algún momento, con la llegada de la vacuna. El significado de esta retomada, sin embargo, se está produciendo ahora mismo, con todas las iniciativas que disputan la narrativa de cómo llegamos a este colapso y cómo podemos salir de esta situación apuntando hacia caminos para la emancipación de la vida humana y la vida en general.
Militante de las luchas por el territorio en las periferias de Brasil, y sobre todo, São Paulo. Escribe, canta, toca, baila y habla más de lo que debería. Comunista libertaria, feminista afro-indígena y favelada.
Militante das lutas do território nas periferias do Brasil e mais que tudo em São Paulo. Escreve, canta, toca, dança e fala mais do que deveria. Comunista libertária, feminista afro-indígena e favelada.