Ilustração: Amanda Martínez E. – Fotografia utilizada para a ilustração de Nasfa Ncanywa é de autoria de Aphiwe Nsimbi. O restante das fotografias utilizadas para esta ilustração pertencem ao acervo fotográfico facilitado pelas entrevistadas

Nasfa Ncanywa (Cidade do Cabo, Africa del Sur), Agrinez Melo (Recife, Brasil), Fernanda Dias (Rio De Janeiro, Brasil) y Alejandra Egido Havana, Cuba/Argentina)

Por Fabiana Pinho e Amanda Martínez E.

Ir al artículo en español

Go to article in english

Em novembro de 2019, Fabiana de Pinho e Amanda Martínez se juntaram para produzir uma entrevista com quatro atrizes e produtoras de teatro negras. A possibilidade de reunir experiências artísticas afro-diaspóricas e africanas em um mesmo espaço pareceu uma excelente ideia sobretudo porque Nasfa, Agrinez, Alejandra e Fernanda são artistas experientes que trazem prenúncios de diferentes regiões – Cidade do Cabo, Recife, Buenos Aires/Havana e Rio de Janeiro -. O que há de comum em suas trajetórias? O que é possível aprender com elas sobre o fazer dramatúrgico negro? Em que medida o terreiro do Atlântico ainda pode ser um espaço simbólico de construção de redes estéticas negras?


O processo de entrevista apresentou alguns desafios instigantes para as realizadoras, Fabiana de Pinho e Amanda Martínez. Três línguas foram os instrumentos de comunicação – Português, Inglês e Espanhol. Após o início da entrevista, a Pandemia de COVID-19 assolou o mundo e gerou limitações físicas, psíquicas, econômicas, territoriais, pessoais e de acesso à internet. Por sua vez, tanto as entrevistadas quanto realizadoras estiveram envolvidas em atividades laborais e acadêmicas ao longo deste tempo.


Diante desta configuração, houve a compreensão de que era preciso lidar com o tempo de outra forma: em respeito e proteção a nossas individualidades e necessidades femininas. Foi preciso realizar este projeto longe da lógica do tempo linear e cronológico, longe das coordenadas cartesianas, pois na prática utilizamos um tempo cíclico e de retorno, tanto para responder novas perguntas, como para voltar à origem que motivou este diálogo entre as mulheres, e para nos aproximarmos e saber sobre a situação de cada uma de nós durante a pandemia. O tempo utilizado neste diálogo foi medido pelos afetos e por uma construção crítica das reflexões que cada mulher propõe com base no que elas compartilham conosco como mulheres negras no teatro. Por isso, três anos entre o início do projeto e a finalização traduzida em três línguas.


Agradecemos muito a estas mulheres negras, Nasfa Ncanywa, Alejandra Egido, Agrinez Melo e Fernanda Dias por suas obras e por terem disponibilizado parte de seu tempo para compartilhar conosco as suas contribuições estéticas negras.

1. Sabemos que o mercado tende a exotizar os corpos e as produções artísticas e intelectuais de mulheres negras. Porém, nos parece importante também que coloquemos nossas experiências como possibilidade de ocupação de territórios de saber. Vocês são quatro mulheres de diferentes regiões do mundo e todas são negras e trabalham com Teatro produzindo e\ou atuando. Gostaria que cada uma de vocês nos contasse, a partir de suas experiências como mulheres negras, como seus caminhos iniciais no Teatro foram construídos? Que referências tiveram? Qual a situação que mais mobilizou vocês para que seguissem no campo das artes?

NASFA NCANYWA

Fui introduzida ao teatro por meu irmão Livie Ncanywa e, refletindo agora, minha carreira foi construída com uma energia masculina. Eu gostava de assistir e trabalhar com homens mais do que com mulheres. Em 2010, assisti a uma produção profissional no Magnet Theatre e foi quando vi artistas femininas realizarem uma atuação forte. Ao longo dos anos anteriores e durante meu treinamento na Universidade da Cidade do Cabo, tenho descoberto elementos de performance que vêm com energia feminina. Há muitos séculos que  a energia feminina vem sendo minada em todos os aspectos da vida até o ponto em que as mulheres também deixaram de investir e encontrar força em suas próprias visões.

Por mais que eu esteja criando obras sobre justiça política e social para a nação Negra, também estou encontrando maneiras de abrir a voz ao feminismo. Observo isto como uma maneira de me descobrir dentro do meu corpo e dos arquivos que carrego.

AGRINEZ MELO

Essa pergunta para mim é bastante significativa.

Eu sou Agrinez Melo e venho de uma família pobre que morava na periferia de uma cidade próxima a Recife, São Lourenço da Mata. Minha mãe era auxiliar de Serviços Gerais e Doméstica, meu pai Serralheiro. Sempre vi os dois sendo explorados e escravizados. Minha mãe, sempre com respostas na ponta da língua, nunca baixava a cabeça, mas permanecia nos trabalhos para criar as três filhas. Isso sempre me doeu. Desde pequena decidi que não seguiria nenhuma dessas profissões.

Na verdade , eu sempre gostei de  aparecer, minha vó dizia que eu era amostrada [Agrinez sorri ao recordar do que sua avó dizia]. Eu amava assistir Xuxa, Chacrinha (1). Comentava que queria ser chacrete ou paquita da Xuxa. Passar na televisão.

Já muito cedo, descobri que não seria Chacrete porque era muito menina, e que não seria paquita por ser negra e nordestina. Resolvi criar meu próprio show, onde éramos qualquer coisa. Eu era sempre Diana da Caverna do Dragão, ou a Shitara dos Thundercats (2).

Sou negra, não retinta, tenho cabelos crespos, corpo magro e sou bem alta: 1,80. Isso era motivo de chacota. Não estava no padrão das meninas da minha idade. Era sempre mais alta que todas, sempre mais magra, sempre mais crespa, mas não era preta o suficiente. Eu estava em um não-lugar, sempre fora da caixinha.

Na escola era silenciada. Eu criava coreografias, tinha desenvoltura nas danças mas era a última da fila, ou a última de uma fila que nem existia. As meninas brancas estavam sempre em evidência, e eu que criava a coreografia estava sempre no cantinho. Era só começar a música que lá vinha eu, negra, com cabelo de fuá (3) e magríssima, saltitando, dando passos largos e vinha para a frente do palco. (Agrinez gargalha com as lembranças)Minha mãe era a grande responsável pela consciência de uma visibilidade. Palavras como:” Não desista!”, “ Você é forte!”, “ Levante a cabeça!”, “ Vá aparecer!”

Dizia isso, ao mesmo tempo em que me protegia dos rituais que aconteciam na nossa vizinhança nos terreiros (4) de Candomblé e Umbanda e alisava meus cabelos para fazer com que eu entrasse em algum padrão.

Aos 12 anos comecei a fazer teatro na escola, meu primeiro personagem era uma retirante do texto de João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina. Aos 17 anos comecei a desfilar em uma agência de modelos. Das duas experiências a  de modelo foi bastante traumática.

Nos anos 90, os cabelos e a cor da pele não eram valorizados. Eu era a negra alta e magra: o cabide para desfilar as roupas, a andrógina das passarelas. Isso significava mais uma vez um NÃO-LUGAR que insistiam em me colocar. Em um desfile, por falta de cosméticos para minha cor, tive os traços apagados, e a justificativa era a de que minha pele deveria ser translúcida naquele evento. Lembro que cheguei em casa desolada e mais uma vez minha mãe em tom esbravejante disse “ Não desista!”. Limpei as lágrimas e fui para o segundo dia de desfile. De novo, apagaram meus traços e eu corri para o banheiro, lavei o rosto e passei um batom bem vermelho. Depois daquele dia, nunca mais me chamaram para desfilar para aquele evento.

Fora isso, quando desfilávamos, recebíamos os convites para sair, deixados nos sapatos que estavam no camarim. Não sei hoje, mas, naquela época, as meninas pretas eram as escolhidas para sair com os estrangeiros. Os desfiles eram uma verdadeira vitrine que exibiam nossos corpos. Eu recebi inúmeros convites desses. Confesso que não sabia direito do que se tratava, mas não tinha interesse, só queria me mostrar. Nunca fui [àqueles encontros], a desculpa era que eu morava longe, que minha família ia ficar preocupada e dava sempre um jeito de fugir dessas conversas. Saia correndo literalmente. Estava cansada de ouvir que era “Um bicho do mato”.

Resolvi, aos 19 anos, investir em uma carreira acadêmica. Saí das passarelas e fui fazer vestibular, passei em três universidades mas o teatro era minha grande paixão. Junto à paixão, tinha a praticidade de estudar em uma Universidade Federal e não precisar pagar mensalidade. Fui fazer Educação Artística com Habilitação em Artes Cênicas, achando que ia ser atriz de novela famosa. Mas, na verdade, era uma licenciatura e eu estava lá para ser professora de teatro.

Foi na Universidade que tive contato com as e os teóricos do teatro e de práticas mais conscientes de interpretação. Me apaixonei pela interpretação, pelos elementos cenográficos, mas faltava representatividade. Aliado a isso, eu ouvia de alguns professores que eu era esforçada, mas que faltava algo.

Só descobri o algo que faltava quando saí da Universidade. Faltava para mim, representatividade. Atrizes negras, professoras pretas. Pessoas de minha cor que  compreendessem minhas dores e alegrias. Eu não era esforçada como ouvi minha vida toda. Eu era e sou  inteligente. 

Em 2006, fui convidada por Naná Sodré, uma mulher negra,  para compor o grupo O Poste, naquele momento um grupo de iluminação Cênica. Era irmandade, parceria. Nos reconhecemos e seguimos juntas nas dores e delícias.

 No teatro éramos  da técnica, da luz. Estávamos sempre por trás das cortinas. Preparando a cena muitas vezes para os artistas brancos atuarem. Eu com filho pequeno e mãe solo, não tinha muitas alternativas. Naqueles dias, eu compreendia exatamente tudo que minha mãe tinha passado, as noites de choro…

“Quando uma mulher negra se movimenta, as estruturas se movimentam”( não sei de quem é a frase mas ela é bastante verdadeira)

Resolvemos, eu e Naná, ir para a cena. Sair de trás das cortinas. Queríamos atuar, éramos atrizes. Montamos o espetáculo  Cordel do Amor Sem Fim, com autoria de Claudia Barral e direção de Samuel Santos (Samuel também faz parte do grupo O Poste) que já tem 10 anos de existência.

Há três anos, montei meu primeiro solo, Histórias Bordadas em Mim, onde transformo minhas histórias reais em teatro. Uma tentativa poética de falar da realidade e convidar o público para um convite de partilha e unir forças para seguir.

Teatro para mim é além de resistência, EXISTÊNCIA. Tenho o teatro como ato político, de valorização cultural. O teatro para mim é principalmente  um ato revolucionário a partir do reconhecimento de minha ancestralidade.

Peça de Teatro: Histórias bordadas em mim. Fonte: Zest Arte e Comunicação.

FERNANDA DIAS

Eu me chamo Fernanda Dias, tenho 43 anos de idade e 20 anos atuando como atriz. Minha chegada no teatro foi porque assistia a algumas personagens na TV (novela brasileira) e as imitava falando. Fiz curso DE TEATRO profissionalizante no Senac RJ e, após 2 anos de curso, entrei para um grupo. Dentro desse grupo, (Os Ciclomáticos Cia de Teatro), que inclusive estou até os dias de hoje, atuei como protagonista em vários espetáculos e nunca tive questões com relação ao racismo. Com o passar do tempo, assistindo a outros espetáculos, participando de festivais de teatro por todo Brasil, vez por outra, chamava minha atenção a ausência de negros e negras no palco; assim como também, a ausência de  temáticas afro-brasileiras. Em 2010, conheci o Centro de Teatro do Oprimido CTO e, participando de oficinas, laboratórios e de alguns encontros de debate, passei a refletir mais sobre as ausências que eu já identificava na cena teatral carioca.  A partir de então, minhas referências no campo das artes cênicas, que antes eram APENAS eurocêntricas, passaram a ser outras e Negras. Isso foi surpreendente, principalmente, porque descobri a riqueza de conteúdos que o universo diaspórico tem, mas estes foram e ainda  são ocultados. Isso me incentivou a rever situações e a buscar espaços que até então antes eu não ocupava. Ser escritora é um exemplo desta  ocupação consciente.

ALEJANDRA EGIDO

Os meus primeiros passos como atriz foram na Companhia de Teatro InfantilAnaquillé”, que era uma companhia do Centro da Havana, onde fazíamos peças com diferentes técnicas de bonecos, música ao vivo e dança. Fizemos muito treinamento  vocal, de atuação e de movimentação, para cada apresentação. Foi um trabalho de atuação rigoroso e muito completo. Mais tarde, fui para o teatro adulto e estou entre os/as fundadoras/res da Companhia Cubana de Teatro de Aço. Este grupo de teatro pertencia a um movimento denominado Teatro Nuevo e refletia nas suas obras a realidade social do momento. Dentro desse movimento, estava o Grupo Escambray, que trabalhava com questões camponesas, Amante y Pinol, com trabalhos no Porto de Havana, Pinos Nuevos, na Ilha da Juventude, que atuava com questões estudantis, e nós que nos instalamos na Fábrica da Sideromecanica do mesmo nome (Cubana de Acero) e fizemos teatro com temática operária, para os operários. Dentro do grupo havia um acadêmico, que trabalhava com os atores e atrizes as técnicas de entrevista para aplicá-las aos operários. Essa informação era o fluxo para fazermos nossas obras teatrais. Algumas peças eram de autores e outras eram de criação coletiva.

Mais tarde, fui atriz no Teatro da Pequena Havana, companhia do escritor e diretor José Milián. Lá, entre outros trabalhos, fiz Brecht e, ao mesmo tempo, fiz Macbeth sob a direção de um diretor francês com um elenco de atores e atrizes afro-cubanos.

Já com a queda do campo socialista e em meio ao período especial cubano, interpretei monólogos de mulheres negras e atrizes negras nos quais já se discutia racismo e falta de oportunidades. Com essas obras teatrais, nós e o diretor dessas obras, Juan Carlos González, fomos morar em Barcelona.

Em Barcelona, fui intérprete de obras com diretores/ras espanhóis/las e dirigi obras como La Cadena Invisible, de Carlos Ferrera, que tratava da violência na esfera privada; um pai que estuprou suas filhas ou Aventuras de María Moñitos; fizemos  um show infantil em Língua catalã. Tivemos a ajuda de um filólogo dessa língua porque todas/todos do elenco eram migrantes e falantes de espanhol e não falavam Catalão.

Na Argentina, tive a motivação de criar o Teatro em Sepia, que este ano completa 20 anos, respondendo à invisibilidade sofrida por afro-argentinos e afro-argentinas. O objetivo do Sépia era encenar sobre a opressão das mulheres negras.

Minha referência era minha mãe, Elvira Cervera, uma sólida atriz cubana de rádio, televisão e cinema Cubanos. Ela também era professora e doutora em Pedagogia.

Peça teatral: Afrolatinoamericanas. A peça trata da luta das mulheres afro-descendentes na Argentina e na América Latina, desde a escravidão até os dias de hoje. Fonte: Teatro em Sepia.

2. O trabalho em rede é fundamental para o desenvolvimento de práticas artísticas. Além disso, temos ciência de que, há séculos, organizações de pessoas negras foram muito importantes para os movimentos de busca por liberdade e combate ao racismo. Atualmente vocês fazem parte de alguma companhia, coletivo artístico e\ou rede de artistas? Falem um pouco sobre a construção desses laços, por favor. 

NASFA NCANYWA

Não faço parte de nenhuma organização ou rede, mas leio sobre aquelas que falam sobre a existência negra; minhas experiências em diferentes espaços também me ajudam a coletar informações. Visitar o teatro também me ajuda, tanto quanto as conversas com realizadores e realizadoras de teatro que criam trabalhos no mesmo contexto que eu. Penso que é necessário gerar colaborações entre criadores e criadoras de teatro e movimentos e Fundações que são a voz da existência / importância Negra e do anti-racismo. No futuro, espero escrever projetos para envolvê-los, porque o teatro é para o povo.

AGRINEZ MELO

Como falei acima, faço parte do Grupo O Poste Soluções Luminosas, desde 2006. Antes éramos eu e Naná Sodré e depois entrou Samuel Santos. Juntos somos imensos, temos um espaço cultural que mantemos a duras penas pois temos poucos apoios. Lá, realizamos nossos espetáculos e espetáculos da classe artística do estado de Pernambuco e de  nacionais e internacionais. No espaço O Poste, oferecemos formação, temos a escola de Antropologia Teatral, e realizamos cursos independentes ao longo do ano. O Poste, enquanto grupo, pesquisa o teatro antropológico e alicerça a interpretação em treinamentos centrados na matriz africana. Temos uma pesquisa chamada O Corpo Ancestral Dentro da Cena Contemporânea. A partir do grupo, eu me fortaleço para alçar voos solos. O Poste me deu forças e segurança para apontar caminhos na montagem de meu espetáculo e abrir empresa de produção cultural, A DoceAgri, que abarca meus empreendimentos individuais de figurino, acessibilidade e teatro.

O Poste é a nossa Fortaleza e nosso Quilombo!

FERNANDA DIAS

Depois das reflexões citadas na resposta anterior, várias janelas se abriram e me juntei com outras pessoas, homens e mulheres negras(os) para que pudéssemos abrir portas antes emperradas pelos racismos. Atualmente atuo em 3 coletivos: Cor do Brasil, formado por homens negros e mulheres negras, Coletivo Madalena Anastácia, formado por mulheres negras, ambos atuantes de Teatro do oprimido. O Coletivo negraação é o mais novo grupo em que me inseri, formado em 2016, atua no campo da dança negra e nasce da inquietação de um grupo de artistas em perceber a falta de espaços, de conteúdo práticos e teóricos sobre as danças negras brasileiras. Essa falta e a desinformação propiciam a separação de artistas que trabalham com dança Negra, mas não se conectam uns com os outros embora transitem por uma mesma referência.

ALEJANDRA EGIDO

A Companhia de Teatro em Sepia (TES) foi criada em 2010 pela diretora e atriz Alejandra Egido, com o objetivo de trabalhar desde as artes cênicas para quebrar a histórica indiferença e o esquecimento da presença dos descendentes de escravizados na Argentina. Pensamos nas e nos afrodescendentes de migrações passadas ou contemporâneas que vivem no território argentino. Trabalhamos, principalmente, contra a opressão sofrida por mulheres negras no país.

É por isso que temos entre os nossos principais objetivos expor, através da arte, o problema da negação e da invisibilidade dos e das afro-descendentes num país que se considera exclusivamente “vindo dos navios” que trouxeram imigrantes europeus no final do século XIX. O TES visa não só a produção artística, mas também objetiva gerar na comunidade vários graus de (auto) reflexão através da busca e exploração de novos caminhos expressivos.

Nesse sentido, é importante que o público seja afetado, por meio do discurso poético do teatro, e reconheça o discurso dominante da brancura argentina que tanto causa a invisibilidade e o esquecimento geral da negritude, quanto a estigmatização e a discriminação. Não queremos uma cristalização de exotismos, mas a criação de um espaço partilhado de diálogo, de reencontro de uma narrativa recalcada e que poucos carregam como «memória», mas a maioria carrega como «esquecimento». É uma reunião que leva corpo, mente e palavras para mudar nossas percepções e nos fazer fluir para além dos limites «raciais» impostos pelos grupos de poder. Ela aspira – através da colocação em jogo de dramas / performances sociais – ganhar espaço para discussão pública e fornecer ferramentas de empoderamento para a população marginalizada por meio da reflexão artística.

3. Nos trabalhos realizados por vocês, pode-se perceber que os temas são diretamente relacionados a questões negras e ocupam um lugar central. Considerando este aspecto, como vocês avaliam os contextos teatrais das regiões em que vivem e os impactos das peças teatrais de vocês nestes territórios?

NASFA NCANYWA

Sou uma jovem Criadora de Teatro e também sou uma artista visual. Tenho rastreado os arquivos das nações Negras que existiam no passado, existem no presente e fazem o que é possível para o futuro. Em termos do meu país e do que existe do passado, notei que há um silêncio repentino e um encobrimento da Democracia. No meu trabalho mais recente, utilizei este elemento como um impulsionador da narrativa. Encenando o que é sensível e subitamente silenciado pelo país. O impacto do meu trabalho é repensar o momento atual do país em relação aos arquivos.

AGRINEZ MELO

Tudo que faço tem relação com minha matriz, que é negra e indígena. Em Recife, me faço visível por meus trabalhos, discursos e posicionamentos. Meus espetáculos são todos com muita força. Seja quando atuo ou dirijo, eles são arrebatadores. Isso assusta a quem não está acostumado a ver negro em cena falando de seu lugar e de sua poesia. 

Eu, enquanto artista e componente do grupo O Poste, posso dizer que já fomos bastante excluídos dos festivais e editais. Mas, ao fechar uma porta, abrimos outras janelas: De tanto nos excluírem de festivais, criamos os nossos para dar visibilidade a nossos trabalhos e aos de vários outros artistas em situação semelhantes.

Mas, enquanto artista negra, ainda sou excluída. Sofro todos os dias tentativas de invisibilizar minha arte. E, assim, vou eu mesma fazendo escoar minha produção, pelo estado de Pernambuco e fora dele. Não é fácil, mas necessário. Hoje acredito que sou vista com respeito pela comunidade teatral dos lugares por onde passei, mas, infelizmente, ainda falta muito.

Sou movida por teimosia (sou capricorniana!) e necessidade de dizer ao mundo que existo.

FERNANDA DIAS

Diferente dos anos anteriores, a partir de 2015, tem sido mais recorrente na cena carioca apresentação de trabalhos artísticos abordando temáticas Negras. Isso tem servido para proporcionar que, cada vez mais, obras possam ser encenadas. Os impactos podem ser percebidos não só nos palcos, com o número de obras apresentadas; mas também nas premiações, que têm contemplado artistas negros e negras e suas obras, nas críticas que, ainda de maneira colonizada, têm tentado se dedicar à produção de escritas sobre criações negras e na produção de livros de autoria Negra. Enfim, ainda que a passos curtos e colonizados e com diversas questões que precisam ser debatidas e transformadas, as produções artísticas e seus impactos têm trazido momentos solares para as temáticas negras e para seus artistas.

ALEJANDRA EGUIDO

Realizamos todos os nossos espetáculos na modalidade teatro-debate, pois detectamos que o grande público desconhece a realidade afro em geral. Utilizamos esta modalidade em apresentações nacionais e internacionais porque detectamos o mesmo problema: Para o imaginário social, nacional e internacional,  “não há negros /gramíneas na Argentina”.

4.  A artista plástica brasileira Rosana Paulino, em 2016, no site Geledés, disse o seguinte: “O sistema artístico brasileiro é muito colonizado”.  Pensando nesta afirmação de Rosana, consequentemente, o sistema artístico vem sendo composto por obras em que  pessoas negras são representadas de modo desumanizado. Como as obras de vocês ampliam ou oxigenam os sistemas de representação a partir do modo como constroem seus personagens?

NASFA NCANYWA

Meu trabalho traça o tempo dos corpos Negros desumanizados ao longo da história. Concordo com o que Rosana Paulino mencionou. Sempre senti que o sistema artístico sul-africano é muito colonizado. Eu senti isso no meu primeiro ano de estudo, pois os e as ancestrais Negras e Negros e suas histórias foram apagadas. Acho que é hora de traçar a voz Negra em nossa profissão, mesmo que a pesquisa sobre o tema esteja fora dessas instituições.

Cena da peça de teatro Lomzimba uyabhidla. A peça explora os traumas do apartheid que continua a assombrar o povo negro na África do Sul, o impacto que ele tem sobre seus corpos e sua forma de estar na vida. A produção foi criada na Universidade da Cidade do Cabo, no Centre for Theatre, Dance and Performance Studies e mais tarde foi encenada na Theatre Arts Admin no Observatório da Cidade do Cabo. Foto: Rob Keith.

AGRINEZ MELO

Meus personagens têm lugar de fala. Isso é muito sério. Ter que dizer ao mundo que meus personagens têm lugar de fala é um contraponto da existência. Mas é assim: resistindo para existir. 

Meus personagens têm um grau elevado de complexidade porque vêm desde a busca por suas origens, até sua materialização. Como acredito em uma dramaturgia que vem do corpo, a partir de partituras até sua construção, o texto escrito vem depois ou vai se encaixando no corpo criado e ambos vão se moldando. Esta é a maneira que descobri para fortalecer e dar vida aos seres que mostro no teatro. Esta também é a condução que assumo na orientação que dou a meus atores em suas construções.

Esquecer as origens é uma forma fácil de colonizar. Se você não sabe quem é e de onde vem, você está à mercê para aceitar o que  disserem como verdade absoluta, sem contestar. Essa é a maneira que encontro para não deixar que colonizem os seres que crio no palco: criando base, fortalecendo e humanizando os personagens.

Isso serve para interpretar as criadas, as rainhas, as prostitutas, as escravizadas, as médicas…

Humanizando todos e todas.

FERNANDA DIAS

Em 2010, tive a oportunidade de fazer minha primeira viagem para fora do país. Fui para o Senegal. Na ocasião, participava do 3º Festival Mundial de Artes Negras. A viagem foi uma revolução nos meus pensamentos no que diz respeito às artes. Em todos os campos artísticos, a negrura recebia holofotes e congratulações: a música, a culinária, a moda, a dança, o teatro, a literatura, o artesanato e outras expressões. Retornando para o Brasil, me questionei: “ Porque aqui também não é assim?”.  Em 2015, retorno ao Senegal para estudar dança na Ecole Des Sables e me deparo com a matriarca Germaine Acogny, bailarina negra que desenvolveu uma técnica, um estilo de dança unindo o tradicional e contemporâneo. Desde 2010, além do teatro, a dança tem sido uma de minhas paixões e, seja na construção de alguma personagem ou no desenvolvimento de coreografias, os movimentos das danças negras sempre baseiam as produções em que estou envolvida. Dessa forma, trago para a cena referências da diáspora negra africana sendo utilizadas de outras maneiras, em contextos diferentes dos que estamos acostumados a identificar.

ALEJANDRA EGUIDO

É nosso objetivo contar, através da encenação de nossos trabalhos, a realidade atual das mulheres negras, expor as desigualdades raciais, de classe e de gênero que sofremos.

Dar a esses personagens afro um papel principal: as heroínas, que nas obras tradicionais seriam personagens ocasionais. Optamos também por  desmascarar os milhares de rostos que apresentam racismos presentes.

5.  Que histórias ainda não contaram e gostariam de contar no teatro de vocês? 

NASFA NCANYWA

Eu me tornei ativista e sou uma pessoa espiritual. Percebi que coleciono histórias em sentido físico e espiritual. No meu país, há muitos lugares com arquivos Negros, tanto bons quanto ruins. Passei meus anos de Ensino médio e universidades viajando de um município para outro. Senti energias quando viajei, vendo pessoas diferentes que encontrei em minha jornada. Quero abrir mais questões sobre os corpos Negros que viajam de um lugar para outro como forma de vida, e saber como se sentem nestes lugares diferentes. Como eles existem de forma distinta nesses espaços afetados pelo passado, os momentos presentes e o que está por vir para a nação Negra. Estou planejando criar um trabalho de teatro multidisciplinar baseado em corpos Negros que existem fora do continente africano.

AGRINEZ MELO

Que pergunta difícil!

Gostaria de contar que a escravidão de meu povo acabou. Que eu consigo andar nas ruas sem ter medo de ser estuprada, que meu filho ande pelas ruas sem ter medo de ser confundido com um bandido pelo fato de ele ter a pele mais escura. Queria contar uma história onde minha filha não vai sofrer nenhuma chacota por ter cabelo crespo e que não vai precisar dizer que é forte, pois todos já saberão disso.

Queria contar a história de que o povo conseguiu, através de inteligência e sensatez, respeito mútuo e gratidão, levando em consideração suas diferenças.

FERNANDA DIAS

É difícil dizer pois os temas são vastos. Em 2019, estreei o espetáculo Meus Cabelos de Boabá, com texto de minha autoria e a direção de Vilma Melo -primeira ATRIZ NEGRA a ganhar o prêmio Shell. A obra traz alguns dos impactos que o racismo pode causar na vida de uma menina. Como ele afeta na adolescência e na vida adulta e como valores emanados de mãe, de vó e de bisavó podem ser e fazer a diferença nessa trajetória. A proposta para o novo trabalho que ainda está em fase elaboração é falar das ervas, dessa riqueza trazida pelos negros e negras e povos indígenas e de como elas estão presentes em nosso dia-a-dia, embora não recebam a devida importância.

ALEJANDRA EGIDO

No ano passado dirigi e estreei uma peça no modo teatro de leitura, Quanto você cobra?, da autora afro-dominicana Ingrid Luciano. Somos sete atrizes afro e o tema é a mulher afro-migrante e como ela deve lutar contra uma sociedade que só a associa e, às vezes, a condena à prostituição.

Acho que seria interessante fazer um trabalho de exploração cultural desde o palco, não sei qual será a realidade das demais companheiras afro-teatraistas consultadas, mas, no nosso caso, para realizar algo assim precisaríamos de um orçamento econômico que nos permitisse dedicar tempo para pesquisar e também para viver. Quase todos os dramaturgos afro na Argentina [precisam deste apoio].

Além de sermos muito poucos, trabalhamos em duas ou três coisas diferentes para viver e poder fazer teatro. 

SEGUNDA PARTE

PERGUNTAS 

1. Pensando na oportunidade de juntar atrizes negras do Brasil, de Cuba e da África do Sul para construir laços transatlânticos e artísticos nesta entrevista, convidamos Agrinez Melo, Alejandra Egido e Fernanda Dias a fazerem, cada uma, uma pergunta para a diretora Nasfa Ncanywa. Da mesma forma, peço que Nasfa faça uma pergunta para as artistas mencionadas.

NASFA NCANYWA

Gostaria de perguntar a Agrinez Melo, Alejandra Egido e Fernanda Dias se elas criaram trabalhos ou desempenharam papéis que exploram a separação Africana através do idioma que usam em seus países e traçam seu idioma ancestral e como isso afeta sua identidade? Se sim, como elas encontraram este processo? Se não, elas estariam interessadas?

RESPOSTAS

AGRINEZ MELO

Eu costumo fazer o caminho de volta, reconhecendo de onde eu vim para poder caminhar. Isso faz com que eu me reafirme como mulher negra e artista negra. Sei muito bem quais são meus direitos, meus deveres e a bandeira que eu preciso levantar. Sei dos ônus e dos bônus de tudo isso. Dentro de todos os meus trabalhos, eu procuro fazer este retorno. Desde meu espetáculo Histórias bordadas em mim até no uso da língua Yorubá porque eu também sou candomblecista. No meu espetáculo, eu procuro sempre introduzir algo que esteja relacionado à minha matriz[africana].  O Umbela é um outro espetáculo – estamos em cena eu e a Naná Sodré, minha sócia e do Grupo Poste – em que falamos em Português e Umbundu. Nele a gente se situa no Brasil e faz o retorno [à África]. 

O espetáculo Umbela foi um divisor de águas porque a gente encarou o desafio de um texto que não é teatral. Era um texto épico. Eu, a Naná e o Samuel nos juntamos para fazer e transformá-lo em um texto teatral. Ele é de um [escritor]angolano chamado Manuel Rui. A língua Umbundo é um idioma da matriz [africana], mas é uma língua morta. Nem o povo de Angola conhece muito bem o Umbundo. Pelo menos não os mais novos. Isso nos causou um grande impacto porque estamos nos esquecendo de onde a gente veio. Inclusive os países que temos como países de [nossa]origem também estão esquecendo dos idiomas para falar o idioma do colonizador. E aí a gente resolveu resgatar isso. E o resgate deste idioma, para mim, veio como um resgate meu, enquanto artista e mulher negra, para saber de fato quais são as minhas origens. Foi muito impactante e emocionante. Essa retomada foi um processo muito difícil porque estamos muito acostumados com a língua colonizada. E nos foi dito que esta era a língua certa. Na verdade, esse não reconhecimento da língua matriz é mais uma tentativa de apagamento.

FERNANDA DIAS

No Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, a língua que se fala predominantemente é o Português, língua do colonizador. Nos meus 23 anos de carreira, todos os espetáculos em que atuei a língua usada foi o Português.

A partir de 2010, iniciei uma pesquisa sobre as danças de matrizes africanas. A linguagem e a estética negra se tornaram muito presentes nas minhas atuações. Isso ficou mais evidente após minhas idas ao Senegal e a Cuba. Ambas visitas tinham envolvimento com as artes cênicas.

O resultado dessa pesquisa e dessas viagens ao Senegal e a Cuba foi o espetáculo Meus Cabelos de Baobá, texto teatral que escrevi em 2017 e 2018 e passei a encená-lo a partir de 2019. De fato, a linguagem falada continua sendo a do colonizador pois não aprendi outra. Porém, a linguagem corporal e simbólica é toda baseada nas matrizes africanas. Algumas palavras em yorubá pontuam a obra, setorizando-a no tempo e no espaço.

Peça teatral «Meus Cabelos de Baobá. Fonte: Fernanda Dias.

ALEJANDRA EGUIDO

Minha companhia de teatro trabalha na Argentina, para um público afro-argentino e um público não afro-argentino. A companhia é formada por atrizes afro-argentinas e afro-descendentes. Somos todas mulheres negras e, por isso, nossos trabalhos teatrais, em cena, abordam os atuais conflitos que as mulheres afro-descendentes enfrentam no país. Com isso, buscamos combater a invisibilidade social que nega a presença atual e a história afro-argentina e a atual presença e história das demais afro-migrações que chegam ao país.

Trata-se de personagens afro-femininos atuais que enfrentam conflitos de hoje e de [como é possível] perturbar o imaginário social que acredita que os e as afrodescendentes na Argentina só existiram na época colonial.

No que diz respeito ao público afro que assiste aos nossos trabalhos, eles se sentem identificados com a atualidade das nossas questões.  Portanto se cura ​​e, assim, de alguma forma, como etnia, ganha força. Usamos uma linguagem clara, coloquial e, às vezes, poética para nos expressar teatralmente.

Também vejo que somos diferentes categorias de entrevistadas. Duas colegas afro-brasileiras que fazem teatro no Brasil. Outra companheira africana que também faz teatro em seu país. E eu, que sou uma atriz de teatro afro-migrante, que uso minha formação teatral cubana para lidar com as opressões dos meus pares afro do palco. Considero que os temas teatrais que, eu e minhas companheiras em Argentina, apresentamos em nossas obras são inusitados no universo teatral argentino.

Evito usar expressões cubanas para não causar confusão. Montamos nosso espetáculo, pesquisando o assunto que vamos representar.

Sobre as produções afro-artísticas e o aspecto econômico que deve acompanhar a sua realização, acrescento que Afro-teatristas e Afro-artistas, em geral, por ocasião de estarem na Década Internacional dos Afro-descendentes (resolução UN-68/237) – 2015 -2024, sendo o tema da Década Internacional “Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento” – devemos exigir dos Ministérios da Cultura de nossos países programas e convocatórias que promovam e estimulem o desenvolvimento de nossa atividade artística por meio de diferentes linhas de subsídios. Ou poderiam ser criadas sinergias com Universidades ou outras entidades que contribuam com financiamento para criações afrodescendentes.

TERCEIRA PARTE

PERGUNTAS DE AGRINEZ, FERNANDA E ALEJANDRA A NASFA

AGRINEZ MELO

Às vezes tenho a impressão que as dores e alegrias das mulheres pretas do mundo, se não são iguais, são bem parecidas. E as artistas têm um ponto de ligação ainda maior: a arte. Poderia perguntar como é ser mulher e artista preta no seu lugar, mas não vou. Parece até que já sei a resposta. Baseada nisso, gostaria de saber se você já pensou em estreitar os laços transatlânticos com outras mulheres, artistas negras na construção de um trabalho que fizesse escoar nossas vozes?

Nasfa Ncanywa: 

Gostaria de ter uma conversa com outras mulheres negras e realmente ouvir o que elas pensam sobre isso porque, apesar de sermos mulheres negras, tenho certeza de que temos perguntas diferentes e emoções intensas sobre o fato de sermos mulheres negras existindo no século 21. Em minha primeira tentativa de criar um projeto como uma produtora de teatro, explorei um tema da diáspora africana no Makukhanye Art Room for AWE (Amazing Women Event) que foi curadoria de Mandisi Sindo e Mbulelo Grootboom.  Esse mesmo projeto recentemente fez sentido para mim depois de tê-lo guardado por 3 anos. Agora estou planejando desenvolvê-lo como uma peça teatral completa.  Para mim, trabalhar com outras mulheres negras seria mais do que apenas um corpo de trabalho criado por mulheres negras com diferentes origens em todo o mundo: É a construção de um espaço/comunidade criativa para as futuras jovens africanas criadoras. 

FERNANDA DIAS

Como é seu processo de criação, no momento de criar uma obra teatral e como seria para você, unir seus saberes artísticos e intelectuais com uma atriz brasileira para a criação de uma teatral ou performance?

Nasfa Ncanywa: 

Para ser honesta, trabalhei em projetos enquanto ainda era uma estudante da UCT, como produtora de teatro. A maior parte da minha abordagem do processo foi influenciada por diretores que me dirigiram, mas agora estou em um processo de reflexão e escuta de minha própria voz. O que me conduziu ao meu próprio processo de criação. Por enquanto, se me fosse dada a oportunidade de trabalhar com uma atriz brasileira, eu incorporaria o processo com a consultoria de meus antepassados e minhas antepassadas para me guiar através do processo, porque acredito que seria a volta para casa da atriz, trabalhando comigo, e, então, o resto seguiria criativamente no espaço de ensaio. Por mais que sejamos criadoras, acredito que, com nosso trabalho, podemos rastrear inconscientemente os arquivos africanos e devemos reconhecer isso para nos conduzir ao âmago das histórias que contamos.

ALEJANDRA EGIDO

Você sabe se existem espetáculos teatrais africanos que têm como tema o comércio de escravos no Atlântico. E se sim, você pode nos dizer quais?

Nasfa Ncanywa: 

Há duas produções que exploraram temas de comércio de escravos criadas por companhias de teatro na Cidade do Cabo. Cargo foi dirigida por Mark Fleishman e criada pela companhia Magnet Theatre, interpretada por Jennie Reznek, Faniswa Yisa, o Jazzart Dance Theatre, e membros do Programa de Formação de Jovens Adultos e Criação de Emprego do Jazzart Dance Theatre em 2007. Cargo é uma produção que traça os arquivos da escravidão dentro da cidade do Cabo, na África do Sul, usando o movimento como sua linguagem principal de produção. O repertório de Mandla Mbothwe também explora temas relacionados à escravidão africana com a produção de Mendi / Did we dance que foram re-imaginados em diferentes espaços e elenco ao longo dos anos. A série deste projeto utiliza o elemento tradicional africano, que é mais utilizado em cerimônias reais, como a linguagem da performance. 

Notas

(1)  Dançarinas  e assistentes de palco do programa brasileiro  Cassino do Chacrinha. Durante os anos 80, este programa era uma das principais atrações das famílias brasileiras.

(2) Caverna do Dragão(Dungeons & Dragons) e Thundercats eram dois desenhos animados estadunidense exibidos na Rede Globo de televisão. Estrearam no Brasil nos anos 80. Diana era a única personagem negra do desenho.

(3)  Cabelo de fuá:  Na maioria dos dicionários, a palavra fuá tem conotações muito negativas.

(4)  No Brasil, os templos de Candomblé são chamados de casas, roças ou terreiros.

.
Ilustración: Amanda Martínez E. – La fotografía utilizada para la ilustración de Nasfa Ncanywa es de Aphiwe Nsimbi. El resto de las fotografías utilizadas para esta ilustración pertenecen al acervo fotográfico facilitado de las entrevistadas.

MUJERES NEGRAS EN DIÁLOGO AFRO-TEATRALES: ÁFRICA DEL SUR, CUBA, ARGENTINA Y BRASIL

Nasfa Ncanywa (Ciudad del Cabo, África del Sur), Agrinez Melo (Recife, Brasil), Fernanda Dias (Rio De Janeiro, Brasil) y Alejandraa Eguido (Habana, Cuba)

Por Fabiana Pinho e Amanda Martínez

En noviembre de 2019, Fabiana de Pinho y Amanda Martínez se unieron para producir una entrevista con cuatro actrices negras y productoras de teatro. La posibilidad de reunir experiencias artísticas afrodiaspóricas y africanas en un mismo espacio parecía una idea estupenda, sobre todo porque Nasfa, Agrinez, Alejandra y Fernanda son artistas de gran experiencia que aportan prospectivas de diferentes regiones -Ciudad del Cabo, Recife, Buenos Aires/Habana y Río de Janeiro-. ¿Qué hay en común en sus trayectorias? ¿Qué podemos aprender de ellas sobre la dramaturgia negra? ¿Hasta qué punto el terreiro atlántico puede seguir siendo un espacio simbólico para la construcción de redes estéticas negras? 

El proceso de entrevistas presentó algunos desafíos instigadores para las realizadoras, Fabiana de Pinho y Amanda Martínez. Tres idiomas fueron los instrumentos de comunicación: portugués, inglés y español. Tras el inicio de la entrevista, la Pandemia de COVID-19 ha asolado el mundo y ha generado limitaciones físicas, psíquicas, económicas, territoriales, personales y de acceso a Internet. A su vez, tanto las entrevistadas como las realizadoras estuvieron involucradas en actividades laborales y académicas durante todo este tiempo.

Ante esta configuración, entendimos que debíamos tratar el tiempo de manera distinta: en respeto y protección de nuestras individualidades y necesidades femeninas. Debíamos realizar este proyecto lejos de la lógica del tiempo lineal y cronológico, lejos de las coordenadas cartesianas, pues en la práctica se utilizó un tiempo cíclico y de retorno, tanto para responder a nuevas preguntas, retornar al origen que motivó este diálogo entre mujeres, como para aproximarnos y saber sobre la situación de cada una de nosotras dentro de la pandemia. El tiempo utilizado en este diálogo fue medido por los afectos y por una construcción crítica sobre las reflexiones que cada mujer propone a partir de lo que nos comparten como mujeres negras en el teatro. Por lo tanto, han transcurrido tres años entre el inicio del proyecto y la finalización traducida a tres idiomas.

Estamos muy agradecidos a estas mujeres negras, Nasfa Ncanywa, Alejandra Egido, Agrinez Melo y Fernanda Dias, por sus trabajos y por haber dispuesto parte de su tiempo para compartir con nosotros sus aportes de estética negra.

1. Sabemos que el mercado suele a exotizar los cuerpos y las producciones artísticas e intelectuales de las mujeres negras\afro.  Pero, también nos parece importante que pongamos nuestras experiencias como una posibilidad de ocupar territorios del conocimiento. Ustedes son cuatro mujeres de distintas regiones del mundo, todas  negras\afro y que  trabajan en el teatro – ya sea produciendo y \ o actuando. Me gustaría que nos cuenten cada una, desde sus experiencias como mujeres negras, cómo se construyeron sus primeros pasos en las artes escénicas ¿Qué referencias tenían? ¿Cuál fue la situación que más les ha movilizado a seguir actuando?

NASFA NCANYWA

Mi hermano Livie Ncanywa me introdujo al teatro y, reflexionando ahora, observo que mi carrera se basó en una energía masculina. Solía disfrutar el observar y trabajar con hombres más que con mujeres. En 2010, vi una producción profesional en Magnet Theatre y fue entonces cuando vi artistas femeninas que actuaban con fuerza. En los últimos años y durante mi formación en la Universidad de Ciudad del Cabo, descubrí elementos de actuación que vienen con la energía femenina. Durante siglos se ha estado minando la energía femenina en todos los aspectos de la vida, hasta el punto de que las mujeres tampoco invirtieron y encontraron fuerza en sus propias visiones.

Por más que esté creando obras sobre justicia política y social para la nación Negra, también estoy encontrando formas de abrir la voz al feminismo. Encuentro esto como una forma de descubrirse dentro de mi cuerpo y los archivos que llevo conmigo.

AGRINEZ MELO

Esta pregunta es bastante significativa para mí.

Soy Agrinez Melo y vengo de una familia pobre que vivía en la periferia de una ciudad cercana a Recife, llamada São Lourenço da Mata. Mi madre era asistente de servicios generales y ama de casa, y mi padre, cerrajero. Siempre vi a ambos explotados y esclavizados. Mi madre siempre tenía las respuestas en la punta de la lengua, nunca bajó la cabeza, pero se quedó trabajando para criar a sus tres hijas. Esto siempre me dolió. Desde pequeña decidí que no seguiría ninguna de estas profesiones.

De hecho, siempre me ha gustado mostrarme, mi abuela solía decir que era muy exhibida [Agrinez sonríe al recordar lo que su abuela solía decir]. Me encantaba ver a Xuxa y Chacrinha (1). Solía decir que quería ser la chacrete o paquita de Xuxa. Salir en la televisión.

Muy pronto supe que no sería una Chacrete porque era demasiado pequeña, y que no sería una paquita porque era negra y del nordeste de Brasil. Decidí crear mi propio programa, en el que éramos cualquier cosa. Siempre fui Diana de Dragon’s Lair, o Shitara de Thundercats (2).

Soy negra, no morena, tengo el cabello rizado, un cuerpo delgado y soy muy alta, tengo 1,80. Esto resultó ser un hazmerreír. No estaba en el nivel de las chicas de mi edad. Siempre fui más alta que las demás, siempre más delgada, siempre más rizada, pero no era lo suficientemente negra, siempre estaba fuera de la caja.

En la escuela me silenciaron. Creaba coreografías, se me daban bien los bailes pero era la última de la fila, o la última de una fila que ni siquiera existía. Las chicas blancas siempre eran el centro de atención, y yo, que creaba la coreografía, siempre estaba en el rincón. En cuanto empezaba la música, allí venía yo, negra, con el cabello de fuá (3) y muy delgada, saltando, dando pasos amplios y llegando al frente del escenario. (Agrinez se ríe con los recuerdos) Mi madre fue la gran responsable de la conciencia de la visibilidad. Me decía palabras como: «¡No te rindas!», «¡Eres fuerte!», «¡Levanta la cabeza!», «¡Sal y muéstrate!».

Al mismo tiempo, me protegía de los rituales que se celebraban en nuestro barrio en los terreiros (4) de Candomblé y Umbanda y me alisaba el cabello para hacerme encajar en algún patrón.

A los 12 años empecé a hacer teatro en la escuela, mi primer personaje fue un emigrante del texto Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto. A los 17 años empecé a modelar para una agencia de modelos. De las dos experiencias, la del modelaje fue bastante traumática.

En los 90 no se valoraba el cabello ni el color de la piel, yo era la negra alta y delgada, la percha para desfilar la ropa, la andrógina de las pasarelas. Esto significó una vez más un, NO LUGAR, que insistieron en colocarme. En un desfile de moda, por falta de cosméticos para mi color, me borraron mis rasgos, y la justificación fue que mi piel debía ser translúcida en ese evento. Recuerdo que llegué a casa desolada y una vez más mi madre en tono enfadado me dijo «¡No te rindas!», me limpié las lágrimas y fui al segundo día del desfile, de nuevo me borraron mis trazos y corrí al baño, me lavé la cara y me pasé un labial bien rojo. Después de ese día, nunca más me llamaron para desfilar para el evento en cuestión.

Además de eso, cuando desfilamos, nos invitan a salir. Nos dejaban la invitación en los zapatos que estaban en el vestuario. Hoy no lo sé, pero en aquella época, las chicas negras eran las elegidas para salir con los extranjeros. Los desfiles de moda eran una auténtica vitrina para exhibir nuestros cuerpos. Recibí innumerables invitaciones de este tipo. Confieso que no sabía realmente de qué se trataba, pero no tenía ningún interés, sólo quería presumir. Nunca fui [a esas reuniones], la excusa era que vivía lejos, que mi familia estaría preocupada y siempre encontraba la manera de alejarme de esas conversaciones. Literalmente salí corriendo. Estaba cansada de oír que era «un animal de monte».

A los 19 años decidí apostar por una carrera académica, dejé las pasarelas y fui a la universidad, aprobé tres universidades pero el teatro era mi gran pasión. Además de la pasión, tenía la comodidad de estudiar en una universidad federal y no tener que pagar la matrícula. Fui a estudiar Educación Artística en la carrera de Artes Escénicas, pensando que iba a ser actriz de una famosa telenovela. Pero en realidad era una licenciatura y yo estaba allí para ser profesora de teatro.

Fue en la universidad donde entré en contacto con las y los teóricos del teatro y las prácticas de actuación más conscientes. Me enamoré de la interpretación, de los elementos escenográficos, pero faltaba representatividad. Aliado a esto escuché de algunos profesores que yo era muy esforzada, pero que me faltaba algo.

Sólo descubrí lo que me faltaba cuando dejé la universidad. Me faltaba representación. Actrices negras, profesores negros. Gente de mi color que entendía mis penas y alegrías. No era tan esforzada como había escuchado toda mi vida. Yo era y soy inteligente.

En 2006 fui invitado por Naná Sodré, una mujer negra, a formar parte del grupo O Poste, que en aquel momento era un grupo de iluminación escénica. Era una hermandad, una asociación. Nos reconocimos y continuamos juntas en nuestras penas y deleites.

 En el teatro, nos dedicamos a la técnica, a la luz, siempre detrás del telón. A menudo preparábamos la escena para que actuaran los artistas blancos. Yo, con un niño pequeño y como madre soltera, no tenía muchas alternativas. En esos días comprendí exactamente lo que había pasado mi madre, aquellas noches de llanto.

«Cuando una mujer negra se mueve, las estructuras se mueven» (no sé de quién es la frase pero es muy cierta)

Naná y yo decidimos subir al escenario. Salir de atrás del telón. Queríamos actuar, éramos actrices. Creamos la obra Cordel do Amor Sem Fim, escrita por Claudia Barral y dirigida por Samuel Santos (Samuel también forma parte del grupo O Poste), que ya existe desde hace 10 años.

Hace tres años, monté mi primer solo, Historias bordadas en mí, donde transformo mis historias reales en teatro. Un intento poético de hablar de la realidad e invitar al público a compartir y unir fuerzas para seguir.

El teatro para mí es, además de resistencia, EXISTENCIA. Veo el teatro como un acto político, de valorización cultural. Para mí, el teatro es principalmente un acto revolucionario que parte del reconocimiento de mi ancestralidad.

Obra de teatro: Historias bordadas en mí. Fuente: Zest Arte e Comunicação.

FERNANDA DIAS

Me llamo Fernanda Dias, tengo 43 años y actúo desde hace 20 años. Mi llegada al teatro se debió a que veía algunos personajes en la televisión (telenovela brasileña) y los imitaba hablando. Hice un curso de TEATRO profesional en el Senac RJ y después de 2 años del curso me uní a un grupo. En este grupo, (Os Ciclomáticos Cia de Teatro), en el que todavía estoy, actué como protagonista en varios espectáculos y nunca tuve ninguna duda sobre el racismo. Con el paso del tiempo, viendo otras obras y participando en festivales de teatro por todo Brasil, me di cuenta de la ausencia de hombres y mujeres negras en el escenario, así como de la ausencia de temas afrobrasileños. En 2010, conocí el Centro de Teatro del Oprimido (CTO) y, al participar en talleres, laboratorios y algunos encuentros de debate, comencé a reflexionar más sobre las ausencias que ya había identificado en la escena teatral de Río de Janeiro.  A partir de entonces, mis referencias en el ámbito de las artes escénicas, que antes eran SOLO eurocéntricas, se convirtieron en otras referencias y en negras. Fue sorprendente, sobre todo porque descubrí la riqueza de contenidos que tiene el universo diaspórico, pero que estaban y siguen estando ocultos. Esto me animó a revisar situaciones y a buscar espacios que hasta entonces no ocupaba. Ser escritora es un ejemplo de esta ocupación consciente.

ALEJANDRA EGIDO

Mis primeros pasos como actriz fueron en La Cia de teatro infantil “Anaquillé” era una compañía de Centro Habana, donde hacíamos obras con distintas técnicas de títeres, música y baile en vivo. Realizábamos fuertes entrenamientos, vocal, de actuación y movimiento, para cada espectáculo, era un riguroso trabajo de actuación, muy completo. Después pasé al teatro de adulto y estoy dentro de las fundadoras de la Compañía teatral Cubana de Acero, este grupo teatral perteneció a un movimiento llamado Teatro Nuevo que reflejaba en sus obras la realidad social del momento. Dentro de este movimiento estuvo, el Grupo Escambray, que trabajaba la temática campesina, Amante y Pinol, que trabaja en el Puerto de la Habana, Pinos Nuevos en la Isla de la Juventud, que trabaja la temática estudiantil y nosotros que nos radicamos en la fábrica Sideromecánica del mismo nombre (Cubana de Acero) y hacíamos teatro con temática obrera, para los obreros. Dentro del grupo había una académica, que trabajaba con los actores y actrices las técnicas de entrevistas para aplicarlas a los trabajadores de la fábrica y esa información era el caudal para hacer nuestras obras teatrales, algunas de autor y otras de creación colectiva. 

Después fui actriz del Pequeño Teatro de La Habana, compañía del escritor y director José Milián. Ahí entre otras obras hice a Brecht y en la misma época hice un Macbeth bajo la dirección de  una directora francesa con un elenco de actores y actrices afro cubanos. 

Ya con la caída del campo socialista y en pleno periodo especial cubano, interpreté monólogos,  en los que ya se trataban el racismo y las faltas de oportunidades, de las mujeres negras y de  las actrices negras. Y con esos trabajos teatrales y el director de estos trabajos,  Juan Carlos González, nos fuimos a residir a Barcelona.  

En Barcelona fui intérprete de obras con directores/ras españolas y dirigí obras como La Cadena  Invisible de Carlos Ferrera que trataba la violencia en el ámbito privado, un padre que violaba a  sus hijas o las Aventuras de María Moñitos, un espectáculo infantil que hicimos en idioma  catalán de la mano de una filóloga de ese idioma, siendo todas las del elenco migrantes y  castellanas parlantes.  

Ya en Argentina me motivó crear Teatro en Sepia, que este año cumple 20 años, respondiendo  a la invisibilización que padecen los/las afroargentinos y por ende demás migraciones afro.  Siendo el sentido de la compañía presentar escénicamente las opresiones de las mujeres negras  

Mi referente fue mi mamá, Elvira Cervera, una sólida actriz cubana de la radio, la televisión y el  cine cubano, además de profesora, porque era Doctora en Pedagogía.

Pieza de teatro: Afrolatinoamericanas. La obra, trata sobre la lucha de las mujeres Afrodescendiente en la Argentina y en Latinoamérica, desde la esclavitud hasta nuestros días. Fuente: Teatro en Sepia.

2. La creación de redes es fundamental al desarrollo de prácticas artísticas. Además, somos conscientes de que, hace siglos, las organizaciones de las y los negros\afros han sido muy importantes en los movimientos de búsqueda de libertad y combate al racismo. ¿Actualmente, ustedes forman parte de alguna compañía teatral, colectivo artístico y / o red de artistas? Cuéntennos un poco sobre la construcción de estos vínculos.

NASFA NCANYWA

No formo parte de ninguna organización o red, pero leo sobre aquellas que hablan sobre la existencia Negra; mis experiencias en diferentes espacios también me ayudan a recolectar información. Visitar el teatro también me ayuda, así como tener conversaciones con directores y directoras de teatro que crean obras en el mismo contexto que el mío. Creo que es necesario generar colaboraciones entre creadores y creadoras de teatro y movimientos y Fundaciones que son la voz de la existencia / importancia Negra y el antirracismo. En el futuro, espero escribir proyectos para involucrarlos, porque el teatro es para el pueblo.

AGRINEZ MELO

Como mencioné anteriormente, soy parte del Grupo O Poste Soluções Luminosas, desde 2006. Antes éramos yo y Naná Sodré y luego vino Samuel Santos. Juntos somos enormes, tenemos un espacio cultural que mantenemos con dificultad porque tenemos poco apoyo. Allí realizamos nuestros espectáculos y los de la clase artística del estado de Pernambuco y de artistas nacionales e internacionales. En el espacio de O Poste, ofrecemos formación, tenemos la escuela de Antropología Teatral, y realizamos cursos independientes durante todo el año. O Poste, como grupo, investiga el teatro antropológico y basa su interpretación en sesiones de formación centradas en la matriz africana. Tenemos un proyecto de investigación llamado El cuerpo ancestral en la escena contemporánea. A través del grupo, me he fortalecido para emprender mis propios vuelos. O Poste me ha dado la fuerza y la seguridad para montar mi espectáculo y abrir una empresa de producción cultural, DoceAgri, que engloba mis iniciativas individuales de diseño de vestuario, accesibilidad y teatro.

¡O Poste es nuestra Fortaleza y nuestro Quilombo!

FERNANDA DIAS

Después de las reflexiones citadas en la respuesta anterior, se abrieron varias ventanas y me uní a otras personas, hombres y mujeres negras, para que juntos pudiéramos abrir puertas antes bloqueadas por el racismo. Actualmente actúo en 3 grupos: Cor do Brasil, formado por hombres y mujeres negras, Coletivo Madalena Anastácia, formado por mujeres negras, ambos activos en el Teatro del Oprimido. El Coletivo negraação es el grupo más reciente al que me uní, formado en 2016, opera en el campo de la danza negra y nace de la inquietud de un grupo de artistas al notar la falta de espacios, contenidos prácticos y teóricos sobre las danzas negras brasileñas. Esta carencia y desinformación lleva a la separación de los artistas que trabajan con la danza negra pero no conectan entre sí aunque transiten por la misma referencia.

ALEJANDRA EGIDO

La Compañía teatral Teatro En Sepia, fue creada en el 2010, por la directora y actriz  Alejandra Egido, con el objetivo de trabajar desde las artes escénicas en pos de quebrar la  histórica indiferencia y olvido de la presencia de los descendientes de esclavos en la  Argentina, y de los afrodescendientes provenientes en migraciones pasadas o  contemporáneas que habitan en este territorio. Trabajando especialmente las opresiones  de las mujeres negras en el país 

Es por ello, que tenemos dentro de nuestros principales objetivos exponer a través del arte  la problemática de la negación e invisibilidad Afrodescendiente en un país que se considera  exclusivamente “llegado de los barcos” que traían a los inmigrantes europeos a fines del  siglo XIX. TES apunta no sólo la producción artística per se sino también generar en la  comunidad diversos grados de (auto) reflexión a través de la búsqueda y exploración de  nuevos caminos expresivos 

En este sentido, interesa que el público se cautive a través del discurso poético del teatro,  y reconozca el discurso dominante de blanquitud argentina que provoca tanto la  invisibilidad y olvido general de lo negro, como la estigmatización y la discriminación. No  se quiere una cristalización de exotismos, sino la creación de un espacio compartido de  diálogo, de reencuentro de una narración reprimida, que muy pocos llevan consigo como  “memoria” pero que la mayoría porta como “olvido”. Es un reencuentro que toma cuerpo,  mente y palabra para cambiar nuestras percepciones y nos hace fluir más allá de los límites  “raciales” impuestos desde los grupos de poder. Aspira -a través de la puesta en juego de  los dramas sociales/performances- ganar espacio de discusión pública y proveer  herramientas de empoderamiento a la población marginalizada a través de la reflexión  artística.  

3. En sus obras, se observa que los temas están directamente relacionados con la problemática negra y esto ocupa un lugar central. Teniendo en cuenta este aspecto, ¿cómo valoran los contextos teatrales de las regiones en las que vive y el impacto de sus obras en estos territorios?

NASFA NCANYWA

Soy una joven Creadora de Teatro y también soy artista Visual; he estado rastreando los archivos de las naciones Negras que existieron en el pasado, en el presente y lo que es posible para el futuro. En cuanto a mi país y lo que existe en el pasado, noté que hay un silencio repentino y un encubrimiento de la Democracia. En mi trabajo más reciente, utilicé este elemento como lo que impulsa la narrativa. Coloqué en escena lo que es sensible y repentinamente silenciado por el país. El impacto de mi trabajo es repensar la situación actual del país en relación con los archivos.

AGRINEZ MELO

Todo lo que hago tiene que ver con mi matriz, que es negra e indígena. En Recife, me hago visible a través de mi trabajo, mis discursos y mis posicionamientos. Mis espectáculos son todos muy fuertes. Tanto si actúo como si dirijo, son abrumadores. Esto asusta a quienes no están acostumbrados a ver a los negros en el escenario hablando de su lugar y de su poesía.

Yo, como artista y componente del grupo O Poste, puedo decir que ya hemos sido bastante excluidos de los festivales y convocatorias. Pero al cerrar una puerta, abrimos otras ventanas: Al ser excluidos y excluidas de los festivales, creamos el nuestro para dar visibilidad a nuestro trabajo y al de varios otros artistas con situaciones similares.

Pero como artista negra, sigo estando excluida. Sufro cada día con los intentos de hacer invisible mi arte. Y así, hago que mis propias obras de arte circulen por todo el estado de Pernambuco y más allá. No es fácil, pero es necesario. Hoy creo que la comunidad teatral me ve con respeto en los lugares donde he estado, pero desgraciadamente aún queda mucho camino por recorrer.

Sou movida por teimosia (sou capricorniana! (risos)) e necessidade de dizer ao mundo que existo.

FERNANDA DIAS

A diferencia de años anteriores, a partir de 2015, ha sido más recurrente en la escena carioca la presentación de obras artísticas que abordan temas negros. Esto ha servido para alimentar e impulsar que, cada vez más, se puedan poner en escena otras obras. Los impactos se pueden percibir no sólo en la escena, con el número de obras presentadas; sino también en los premios, que han contemplado a los artistas negros y sus obras, en la crítica que, todavía de forma colonizada, ha intentado dedicarse a la producción de escritos sobre creaciones negras, en la producción de libros de autores y autoras negras. Finalmente, aunque a pasos cortos y colonizados, y con varias cuestiones que necesitan ser discutidas y transformadas, las producciones artísticas y sus impactos han traído momentos soleados para los temas negros y sus artistas.

ALEJANDRA EGIDO

Realizamos todos nuestros espectáculos en la modalidad de teatro- debate, porque hemos detectado que el público en general desconoce la realidad afro, en general. Esta modalidad la usamos en las presentaciones nacionales e internacionales, porque detectamos el mismo problema, para el imaginario social, nacional e internacional que cree que “no hay negros/gras en Argentina”. 

4.  En 2016, en el sitio web de Geledés,  la artista plástica brasileña Rosana Paulino dijo lo siguiente: «el sistema artístico brasileño está muy colonizado». De esta manera, pensando en esta afirmación de Rosana, el sistema artístico se ha compuesto de obras en las que las y los negros están representados de manera deshumanizada ¿Cómo amplían u oxigenan sus obras los sistemas de representación a través de la forma en que construye sus personajes?

NASFA NCANYWA

Mi trabajo traza el tiempo de los cuerpos Negros deshumanizados a lo largo de la historia. Resueno con lo que Rosana Pauline mencionó, siempre sentí que el sistema artístico sudafricano está muy colonizado. Lo sentí en mi primer año de estudio, pues las y los ancestros Negros e sus historias fueron borradas. Creo que es hora de rastrear la voz Negra en nuestra profesión, incluso si la investigación sobre el tema está fuera de estas instituciones.

Escena de la obra Lomzimba uyabhidla. La obra explora los traumas del apartheid que siguen persiguiendo al pueblo negro en Sudáfrica, el impacto que tiene en sus cuerpos y su forma de estar en la vida. La producción fue creada en el Centro de Estudios de Teatro, Danza e Interpretación de la Universidad de Ciudad del Cabo y posteriormente se puso en escena en el Theatre Arts Admin del Observatorio de Ciudad del Cabo. Foto: Rob Keith.

AGRINEZ MELO

Mis personajes tienen un lugar de enunciación. Esto es muy serio. Tener que decirle al mundo que mis personajes tienen un lugar de enunciación es un contrapunto de la existencia. Pero así es: resistir para existir.

Mis personajes tienen un alto grado de complejidad porque van desde la búsqueda de sus orígenes hasta su materialización. Como creo en una dramaturgia que parte del cuerpo, desde las partituras hasta su construcción, el texto escrito viene después o se encaja en el cuerpo creado y ambos se moldean mutuamente. Esta es la forma que descubrí para fortalecer y dar vida a los seres que muestro en el teatro. Esta es también la dirección que tomo al guiar a mis actores en sus construcciones.

Olvidar los orígenes es una forma fácil de colonizar. Si no sabes quién eres y de dónde vienes, estás a merced de aceptar lo que digan como verdad absoluta, sin refutarlo. Esta es la manera que encuentro para no dejar que colonicen los seres que creo en escena: creando base, fortaleciendo y humanizando los personajes.

Esto sirve para interpretar a criadas y reinas, prostitutas, esclavos, médicos…

Humanizar a todos y todas. 

FERNANDA DIAS

En 2010, tuve la oportunidad de hacer mi primer viaje fuera del país. Fui a Senegal. En ese momento, participaba en el Tercer Festival Mundial de Artes y Culturas Negras. El viaje supuso una revolución en mis pensamientos, en lo que respecta a las artes. En todos los ámbitos artísticos, la negritud recibió el protagonismo y las felicitaciones: música, cocina, moda, danza, teatro, literatura, artesanía y otras expresiones. Al volver a Brasil, me pregunté: «¿Por qué no es así aquí también?  En 2015, volví a Senegal para estudiar danza en la Ecole Des Sables y me encontré con la matriarca Germaine Acogny, una bailarina negra que desarrolló una técnica, un estilo de danza que unía lo tradicional y lo contemporáneo. Desde 2010, además del teatro, la danza es una de mis pasiones y, ya sea en la construcción de un personaje o en el desarrollo de una coreografía, los movimientos de las danzas negras son siempre la base de las producciones en las que participo. De este modo, traigo a la escena referencias de la diáspora negra africana utilizada de otras maneras, en contextos diferentes a los que estamos acostumbrados a identificar.

ALEJANDRA EGIDO

Es nuestro objetivo contar, a través de las puestas en escena de nuestras obras, la realidad actual de las mujeres negras, exponer las desigualdades raciales, de clase y de género, que padecemos. 

Darles a estos personajes afro protagonismo, carácter de heroínas, que en obras tradicionales serían personajes ocasionales. Y desenmascarar los miles de rostros que presentan los racismos actuales. 

5.  ¿Qué historias no han contado todavía  y quisieran contar en sus obras?

NASFA NCANYWA

Me convertí en activista y soy una persona espiritual; me di cuenta de que colecciono historias en un sentido físico y espiritual. En mi país, hay muchos lugares con archivos Negros, tanto buenos como malos. Pasé mis años de secundaria y universidad viajando de un municipio a otro. Sentí energías cuando viajé, al ver diferentes personas que conocí en mis viajes. Quiero indagar más sobre los cuerpos Negros que viajan de un lugar a otro, como una forma de vida, y saber cómo se sienten en estos distintos lugares. Cómo existen de manera diferente en esos espacios afectados por el pasado, los momentos presentes y lo que está por venir para la nación Negra. Estoy planeando crear una obra teatral multidisciplinaria basada en cuerpos Negros que existen fuera del continente Africano.

AGRINEZ MELO

¡Qué pregunta tan difícil!

Me gustaría decirles que la esclavitud de mi pueblo ha terminado. Que puedo caminar por las calles sin miedo a ser violada, que mi hijo camina por las calles sin miedo a ser confundido con un bandido porque tiene la piel más oscura. Quería contar una historia en la que mi hija no sufriera ninguna burla por tener el cabello crespo y no tuviera que decir que es fuerte, porque todo el mundo ya lo sabría.

Quisiera contar la historia que las personas lograron, mediante la inteligencia y la sabiduría, el respeto mutuo y la gratitud, teniendo en cuenta sus diferencias.

FERNANDA DIAS

Es difícil decirlo porque los temas son muy amplios. En 2019, estrenaré el espectáculo Mi cabello de Boabá, con texto propio y dirección de Vilma Melo -la primera actriz negra en ganar el Premio Shell-. La obra muestra algunos de los impactos que el racismo puede tener en la vida de una niña. Cómo afecta a la adolescencia y a la edad adulta y cómo los valores que emanan de la madre, la abuela y la bisabuela pueden marcar la diferencia en esta trayectoria. La propuesta del nuevo trabajo que aún se está elaborando es hablar de las hierbas, de esa riqueza que aportan los negros y negras, y los pueblos indígenas y de cómo están presentes en nuestro día a día, aunque no reciban la importancia debida.

ALEJANDRA EGIDO

El año pasado dirigí y estrené una obra en la modalidad de teatro leído, ¿Cuánto Cobrás? de la autora afro dominicana Ingrid Luciano y con siete actrices afro y que queremos montar como espectáculo este año, cuyo tema es la mujer afro migrante y como tiene que luchar con una sociedad que solo la asocia y en ocasiones la condena a la prostitución.

Pienso que sería interesante realizar un trabajo de exploración cultural desde el escenario, no  sé cuál será la realidad de las demás compañeras afro teatristas consultadas, pero en nuestro caso para llevar a cabo algo así necesitaríamos un presupuesto económico que nos permitiera  dedicar un tiempo a la investigación y además vivir. Casi todas las teatristas afro en Argentina  

Además de ser muy pocas, trabajamos en dos tres cosas distintas para vivir y para poder hacer  teatro.  

SEGUNDA PARTE

PREGUNTAS

1. Sobre la oportunidad de reunir a actrices negras de Brasil, Cuba y Sudáfrica para construir vínculos transatlánticos y artísticos en esta entrevista, invitamos a Agrinez Melo, Alejandra Egido y Fernanda Dias a realizar una pregunta a la directora Nasfa Ncanywa . De la misma manera, le pido a Nasfa que haga una pregunta a las artistas mencionadas.

NASFA NCANYWA

Me gustaría preguntarle a Agrinez Melo, Alejandra Egido y Fernanda Dias si crearon trabajos o desempeñaron papeles que exploran la separación Africana a través del idioma que usan en sus países y si rastrean su idioma ancestral y cómo esto afecta su identidad. Si es así, ¿cómo encontraron este proceso? Si no, ¿estarían interesadas?

RESPUESTAS

AGRINEZ MELO

Suelo recorrer el camino de regreso, reconociendo de dónde vengo para poder caminar. Esto me hace reafirmarme como mujer negra y artista negra. Sé muy bien cuáles son mis derechos y deberes y la bandera que tengo que levantar. Conozco la dificultad y la ventaja de todo esto. En todo mi trabajo, trato de hacer este retorno. Desde mi espectáculo, Historias bordadas sobre mí, hasta el uso de la lengua yoruba, porque también soy candomblecista. En mis espectáculos, siempre intento introducir algo relacionado con mi matriz [africana].  Umbela es otro espectáculo -estamos en la escena Naná Sodré, mi socia en el Grupo Poste, y yo- en el que hablamos en portugués y en umbundu. En ella nos situamos en Brasil y volvemos [a África].

El espectáculo Umbela marcó un antes y un después porque nos enfrentamos al reto de un texto que no es teatral. Era un texto épico. Naná, Samuel y yo nos reunimos para hacerlo y transformarlo en un texto teatral. Es de un angoleño llamado Manuel Rui. El umbundo es una lengua de la matriz [africana], pero es una lengua muerta. Ni siquiera la gente de Angola conoce bien el Umbundo. Al menos no los más jóvenes. Esto nos causó un gran impacto porque estamos olvidando de dónde venimos. Incluso los países que tenemos como países de [nuestro] origen también están olvidando sus lenguas y hablando la lengua del colonizador. Y entonces decidimos rescatar esto. Y el rescate de este lenguaje, para mí, vino como un rescate de mí misma, como artista y como mujer negra, para saber realmente dónde están mis orígenes. Fue muy impactante y emocionante. Esta retomada fue un proceso muy difícil porque estamos muy acostumbrados a la lengua colonizada. Y nos dijeron que este era el lenguaje correcto. De hecho, este no reconocimiento de la lengua materna es más bien un intento de borrado.

FERNANDA DIAS

En Brasil, concretamente en Río de Janeiro, la lengua predominante es el portugués, la lengua del colonizador. En mis 23 años de carrera, todos los espectáculos en los que actué el idioma utilizado fue el portugués.

Desde 2010, empecé a investigar las danzas de origen africano. El lenguaje y la estética negra se hicieron muy presentes en mis actuaciones. Esto se hizo más evidente tras mis visitas a Senegal y Cuba. Ambas visitas estaban relacionadas con las artes escénicas.

El resultado de esta investigación y de estos viajes a Senegal y Cuba fue el espectáculo Mis Cabellos de Baobá (Meus cabelos de Baobá), un texto teatral que escribí en 2017 y 2018 y que comencé a poner en escena en 2019. De hecho, la lengua hablada sigue siendo la del colonizador, ya que no he aprendido otra. Sin embargo, el lenguaje corporal y simbólico se basa en las matrices africanas. Algunas palabras en yoruba puntúan la obra, sectorizándola en el tiempo y el espacio.

Obra de teatro «Mis Cabellos de Baobá (Meus Cabelos de Baobá)». Fuente: Fernanda Dias.

ALEJANDRA EGIDO

Mi compañía de teatro trabaja en Argentina, para un público argentino afro y público argentino no afro. La compañía está conformada por actrices afroargentinas y afrodescendientes, somos todas mujeres negras. Por ello nuestras obras teatrales, escénicamente tratan los actuales conflictos que enfrentamos las mujeres afro en el país. Intentamos con ello combatir la invisibilización social, que niega la presencia actual y la historia afroargentina y la presencia actual y la historia de las demás migraciones afro llegadas al país.

Tratamos con personajes afrofemeninos actuales que enfrentan conflictos del hoy y del ahora inquietando al imaginario social que cree que la Afrodescendencia en la Argentina sólo existió en la época Colonial.

Con respecto al público afro que asiste a nuestras obras se siente identificado con la actualidad de nuestros temas, por ello sana y de alguna manera, como grupo étnico cobra fuerza. Utilizamos para expresarnos teatralmente un lenguaje claro, coloquial y en ocasiones poético.

Veo también que somos distintas categorías de entrevistadas. Dos compañeras afrobrasileras que hacen teatro en su país. Otra compañera africana que hace teatro en su país. Y yo, que soy teatrista afro migrante, que utilizo mi formación teatral cubana para tratar desde el escenario las opresiones de mis congéneres afro y considerando que las temáticas teatrales que presentamos en nuestras obras son inusuales, dentro del universo teatral argentino. 

Evito usar giros lingüísticos cubanos, para no llamar a confusión. Conformamos nuestro espectáculo, previa investigación sobre el tema que vamos a representar.

Sobre las producciones artísticas afro y la correspondiente partida económica que debe acompañar la realización de los mismas, acrescento que las y los teatristas afro y artistas afro en general en ocasión de estar en Decenio Internacional para los Afrodescendientes (resolución ONU- 68/237) 2015-2024, siendo el tema del Decenio Internacional ”Afrodescendientes: reconocimiento, justicia y desarrollo” debemos exigir a los Ministerios de Cultura de nuestros países Programas, Convocatorias que fomenten y propicien el desarrollo de nuestra actividad artística a través de distintas líneas de subsidios. O conformar sinergias con Universidades u otras entidades que contribuyan con líneas de subsidios para las creaciones afrodescendientes.

TERCERA PARTE

PREGUNTAS DE AGRINEZ, FERNANDA Y ALEJANDRA A NASFA

AGRINEZ MELO

A veces tengo la impresión de que los dolores y las alegrías de las mujeres negras en el mundo, si no son lo mismo, son muy similares. Las artistas tienen un punto de conexión aún mayor, el arte. Podría preguntarte cómo es ser una mujer negra y artista en tu lugar, pero no voy a hacerlo. Parece que ya sé la respuesta. En base a eso, me gustaría saber si ya has pensado en fortalecer los lazos transatlánticos con otras mujeres, artistas negras, en la construcción de una obra que haría fluir nuestras voces.

Nasfa Ncanywa: 

Me encantaría tener una conversación con otras mujeres negras y escuchar realmente lo que piensan sobre esto, porque aunque seamos mujeres negras, estoy segura de que tenemos diferentes preguntas y emociones intensas sobre ser mujeres negras que existen en el siglo XXI. En mi primer intento de crear un proyecto como productora teatral, exploré el tema de la diáspora africana en la Sala de Arte Makukhanye para AWE (Amazing Women Event), cuya curaduría estuvo a cargo de Mandisi Sindo y Mbulelo Grootboom.  Ese mismo proyecto recientemente cobró sentido para mí después de haberlo dejado de lado durante 3 años. Ahora estoy planeando desarrollarla como una obra de teatro completa.  Para mí, trabajar con otras mujeres negras sería algo más que un conjunto de obras creadas por mujeres negras con diferentes orígenes en todo el mundo: es construir un espacio/comunidad creativa para las futuras jóvenes creadoras africanas.

FERNANDA DIAS


¿Cómo es tu proceso creativo, en el momento de crear una obra teatral y cómo sería para ti, juntar tu conocimiento artístico e intelectual con una actriz brasileña para generar una obra teatral o de actuación?

Nasfa Ncanywa:

Para ser sincera, trabajé en proyectos cuando aún era estudiante en la UCT como productora de teatro. La mayor parte de mi aproximación al proceso estuvo influenciada por los directores que me dirigían, pero ahora estoy en un proceso de reflexión y escucha de mi propia voz. Lo que me ha llevado a mi propio proceso creativo. Por ahora, si se me diera la oportunidad de trabajar con una actriz brasileña, incorporaría en el proceso los consejos de mis antepasados y antepasadas para guiarme, porque creo que sería la actriz la que vendría a casa, a trabajar conmigo, y luego el resto seguiría creativamente en el espacio de ensayo. Por mucho que seamos creadoras, creo que con nuestro trabajo podemos rastrear inconscientemente los archivos africanos y debemos reconocerlo para que nos lleve al núcleo de las historias que contamos.

ALEJANDRA EGIDO

¿Sabe si hay algún espectáculo teatral africano cuyo tema sea el comercio de esclavos en el Atlántico? Y si es así, ¿puede decirnos cuáles son?

Nasfa Ncanywa:

Hay dos producciones que exploran los temas de la trata de esclavos, creadas por compañías de teatro de Ciudad del Cabo. Cargo fue dirigida por Mark Fleishman y creada por la compañía de teatro Magnet, interpretada por Jennie Reznek, Faniswa Yisa, el Jazzart Dance Theatre y miembros del programa de formación y creación de empleo para jóvenes adultos del Jazzart Dance Theatre en 2007. Cargo es una producción que rastrea los archivos de la esclavitud en Ciudad del Cabo, Sudáfrica, utilizando el movimiento como principal lenguaje de producción. El repertorio de Mandla Mbothwe también explora temas relacionados con la esclavitud africana con la producción de Mendi / Did we dance, que ha sido reimaginada en diferentes espacios y reparto a lo largo de los años. La serie de este proyecto utiliza como lenguaje de actuación el elemento tradicional africano, que es el más utilizado en las ceremonias reales.

Notas

(1)  Bailarines y asistentes de escenario del programa de televisión brasileño Cassino do Chacrinha. En los años 80, este espectáculo era una de las principales atracciones para las familias brasileñas.

(2) Dungeons & Dragons y Thundercats eran dos dibujos animados estadounidenses que se emitían en la televisión de la red Globo. Se presentaron por primera vez en Brasil en la década de 1980. Diana era el único personaje negro de los dibujos animados.

(3) Cabello de fuá: En la mayoría de los diccionarios, la palabra fuá tiene connotaciones muy negativas.

(4) En Brasil, los templos de candomblé son llamados casas, roças o terreiros.

.
Illustration: Amanda Martínez E. – Photograph used for the illustration of Nasfa Ncanywa is by Aphiwe Nsimbi. The rest of the photographs used for this illustration belong to the photographic collection facilitated by the interviewees

BLACK WOMEN IN AFRO-THEATER DIALOGUES: SOUTH AFRICA, CUBA, ARGENTINA AND BRAZIL 

Nasfa Ncanywa (Cape Town, South Africa), Agrinez Melo (Recife, Brazil), Fernanda Dias (Rio De Janeiro, Brazil) and Alejandra Egido (Habana, Cuba)

By Fabiana Pinho and Amanda Martínez E.

In November 2019, Fabiana de Pinho and Amanda Martínez teamed up to produce an interview with four black actresses and theatre producers. The possibility of bringing together Afro-diasporic and African artistic experiences in one space seemed like a great idea, especially since Nasfa, Agrinez, Alejandra and Fernanda are experienced artists who bring foreshadowing from different regions – Cape Town, Recife, Buenos Aires/Havana and Rio de Janeiro. What do their careers have in common? What can we learn from them about black dramaturgy? To what extent can the Atlantic terrarium still be a symbolic space for the construction of black aesthetic networks?

The interview process presented some instigating challenges for the makers, Fabiana de Pinho and Amanda Martínez. Three languages were the means of communication – Portuguese, English and Spanish. After the interview began, the COVID -19 pandemic devastated the world, causing physical, psychological, economic, territorial, personal, and Internet access restrictions. Both interviewees and organizers were involved in work and academic activities during this time.

Faced with this configuration, it came to the realization that it was necessary to deal with time in a different way: in the respect and protection of our individuality and our feminine needs. It was necessary to carry out this project far from the logic of linear and chronological time and far from Cartesian coordinates, because in practice we used a cyclical and returning time, both to answer new questions and to return to the origin that motivated this dialog among women, and to approach and understand the situation of each of us during the pandemic. The time used in this dialog was measured by affection and by a critical construction of the reflections that each woman proposes, based on what they share with us as black women in the theater. Thus, three years passed between the beginning of the project and the completion of the translation in three languages.

We are very grateful to these black women, Nasfa Ncanywa, Alejandra Egido, Agrinez Melo and Fernanda Dias, for their works and for giving some of their time to share their black aesthetic contributions with us.

1. We know that the market tends to exoticize the bodies and the artistic and intellectual productions of black women. But it also seems important to us that we present our experiences as a way of occupying territories of knowledge. You are four women from different regions of the world and all of you are black and work in the theater, either as producers or as actors. Would you each please tell us from your experiences as black women how your early paths to theater came about? What references did you have? What was the situation that most mobilized you to continue?

NASFA NCANYWA

I was introduced to theater by my brother Livie Ncanywa and when I reflect now, my career was built on a masculine energy. I used to enjoy watching and working with males more than females. In 2010 I watched a professional production at Magnet Theater and that is when I saw female performers who delivered a strong performance. Through the years before and during my training at the University of Cape Town I have been discovering elements of performance that come with Feminine energy. It has been centuries of undermining the female energy in all aspects of life to a point that females also did not invest and find strength in their visions. 

As much as I am creating political and social justice works for the Black nation, I am also finding ways to open the voice of feminism. I find this as a way of discovering myself within my body and the archives that I carry.

AGRINEZ MELO

This question is quite significant for me.

I am Agrinez Melo and I come from a poor family that lived on the outskirts of a town near Recife called São Lourenço da Mata. My mother was a general services assistant and housekeeper, and my father was a locksmith. I always saw how they were both exploited and enslaved. My mother always had answers on the tip of her tongue, never lowered her head, but stayed at her job to raise her three daughters. That always hurts me. Since I was a little girl, I decided that I would not enter any of these professions.

Actually, I have always liked being noticed. My grandmother used to say I was a show-off [Agrinez smiles as she remembers what her grandmother used to say]. I loved to see Xuxa and Chacrinha (1). I always said I wanted to be a chacrete or a paquita for Xuxa. I wanted to be on TV.

Very early on I found out that I wouldn’t be a Chacrete because I was too little, and that I wouldn’t be a paquita because I was black and from the Northeast. I decided to create my own show, where we were anything. I was always Diana from Dragon’s Lair, or Shitara from Thundercats (2).

I am black, not brown, I have curly hair, a slim body, and I am very tall, about 1,80. This was a laughingstock. I was not in the standard of the girls my age. I was always taller than everyone else, always thinner, always curlier, but I wasn’t black enough, I was in a non-place, always out of the box.

At school I was silenced. I created choreographies, I was good at dances, but I was the last in line, or the last in a line that didn’t even exist. The white girls were always in evidence, and I, who created the choreography, was always in the corner. As soon as the music started, there I would come, black, with f hair (3) and very thin, jumping up and down, taking large steps and coming to the front of the stage. (Agrinez laughs with the memories) My mother was the great responsible for the consciousness of visibility. She used to tell me things like:» Don’t give up!», » You are strong!», » Hold your head up!», » Go show up!»

At the same time, she protected me from the rituals that took place in our neighborhood at the Candomblé and Umbanda terreiros (4) and straightened my hair to get me into some sort of pattern.

At the age of 12 I started doing theater at school. My first character was a migrant from João Cabral de Melo Neto’s text Morte e Vida Severina (Severina Death and Life ). At 17 I started modeling for a fashion agency. Of the two experiences, the modeling one was quite traumatic.

In the 90’s, hair and skin color were not valued, I was the tall, skinny black woman, the clothes hanger, the androgynous one on the runways. This meant once again a NO PLACE, that they insisted on putting me. In a fashion show, due to the lack of cosmetics for my color, I had my features erased, and the justification was that my skin should be translucent in that event. I remember that I got home desolated and once again my mother shouted «Don’t give up!», I wiped my tears and went to the second day of the parade, again they erased my features and I ran to the bathroom, washed my face and put on a very red lipstick. After that day, I was never again called to parade for the given event.

Other than that, when we paraded, we received invitations to go out, leaving them on the shoes that were in the dressing room. I don’t know today, but in those days the black girls were the ones chosen to go out with the foreigners. The fashion shows were a real showcase that exhibited our bodies. I received countless invitations like this. I confess that I didn’t really know what they were about, but I had no interest, I just wanted to show off. I never went [to those meetings], the excuse was that I lived far away, that my family would be worried, and I always found a way to run away from those conversations. I literally ran away. I was tired of hearing that I was a «bush animal.

At the age of 19 I decided to invest in an academic career, I left the runway and went to college. I got into three universities, but theater was my great passion. Along with my passion, I had the convenience of studying at a Federal University and not having to pay tuition. I went to study Artistic Education with Qualification in Scenic Arts, thinking I was going to be an actress in a famous soap opera. But in reality it was a degree course and I was there to be a theater teacher.

It was at the University that I had contact with theater theoreticians and more conscious interpretation practices. I fell in love with interpretation, the scenographic elements, but there was a lack of representation. Allied to this I heard from some professors that I was hardworking, but that something was missing.

I only discovered something that was missing when I left the University. I lacked representation. Black actresses, black professors. People of my color who understood my pains and joys. I was not a hard worker as I had heard all my life. I was and am intelligent.

In 2006 I was invited by Naná Sodré, a black woman, to join the group O Poste, at that time a scenic illumination group. It was a sisterhood, a partnership. We recognized each other and went through pains and delights together.

In the theater we were the technicians, the light, always behind the curtains. Often preparing the scene for the white artists to act. Me, with a small child and as a single mother, I didn’t have many alternatives. In those days I understood exactly everything my mother had been through, the nights of crying.

«When a black woman moves, the structures move»( I don’t know whose phrase it is but it is quite true)

Naná and I decided to go to the scene. To come out from behind the curtains. We wanted to act, we were actresses. We created the show Cordel do Amor Sem Fim (The Endless Love String), written by Claudia Barral and directed by Samuel Santos (Samuel is also part of the group O Poste), which has already existed for 10 years.

Three years ago, I put together my first solo, Stories Embroidered on Me, where I transform my real stories into theater. A poetic attempt to talk about reality and invite the audience to share and join forces to follow.

Theater for me is, besides resistance, EXISTENCE. I see theater as a political act, of cultural valorization. Theater for me is mainly a revolutionary act starting from the recognition of my ancestry.

Theater Play: Stories embroidered on me. Source: Zest Arte e Comunicação.

FERNANDA DIAS

My name is Fernanda Dias, I am 43 years old and have been acting for 20 years. My arrival in the theater was because I watched some characters on TV (Brazilian soap operas) and imitated them speaking. I took a professional THEATER course at Senac RJ and, after 2 years of the course, I joined a group. In this group, (Os Ciclomáticos Cia de Teatro), which I still am today, I acted as the protagonist in several plays and never had any questions about racism. As time went by, watching other plays, taking part in theater festivals all over Brazil, once in a while my attention was drawn to the absence of black men and women on stage, as well as the absence of Afro-Brazilian themes. In 2010, I got to know the Center Theater of the Oppressed (CTO) and, by participating in workshops, laboratories and some debate meetings, I started to reflect more about the absences that I already identified in the theater scene in Rio de Janeiro.  From then on, my references in the field of scenic arts, which before were ONLY Eurocentric, became other and Black. This was surprising, mainly because I discovered the richness of contents that the diasporic universe has, but which were and still are hidden. This encouraged me to review situations and to seek spaces that until then I did not occupy. Being a writer is an example of this conscious occupation.

ALEJANDRA EGIDO

My first steps as an actress were in the children’s theater company «Anaquillé», it was a company of Centro Habana, where we did plays with different marionette techniques, live music and dance. We did strong training, vocal, acting and movement, for each show. It was a rigorous work of acting, very complete. Later I moved on to adult theater and I was one of the founders of the Compañía Teatral Cubana de Acero. This theater group belonged to a movement called Teatro Nuevo that reflected in its plays the social reality of the moment. Within this movement was the Escambray Group, which worked on peasant themes, Amante y Pinol, which worked in the Port of Havana, Pinos Nuevos on the Isle of Youth, which worked on student themes and we who settled in the sideromechanics factory of the same name (Cubana de Acero) and made theater with working class themes, for the workers. Within the group there was an academic, who worked with the actors and actresses on interview techniques to apply them to the factory workers, and this information was the flow to make our theatrical works, some authored and others of collective creation. 

Later I was an actress in the Pequeño Teatro de La Habana company run by writer and director José Milián. There, among other plays, I did Brecht, and at the same time I did a Macbeth under the direction of a French director with a cast of Afro-Cuban actors and actresses.

With the fall of the socialist camp and in the middle of the Cuban special period, I performed monologues, in which racism and the lack of opportunities for black women and black actresses were already being addressed. And with these theatrical works and the director of these works, Juan Carlos González, we went to live in Barcelona.  

In Barcelona I performed in plays with Spanish directors and directed plays such as La Cadena Invisible by Carlos Ferrera, which dealt with violence in the private sphere, a father who raped his daughters, or the Adventures of María Moñitos, a children’s show we did in Catalan with the help of a Catalan philologist, all of the cast being migrant and Spanish speakers.  

Already in Argentina, I was motivated to create Teatro en Sepia, which this year celebrates its 20th anniversary, responding to the invisibilization suffered by Afro-Argentines and therefore other Afro migrations.  The sense of the company was to present scenically the oppressions of black women.  

My reference was my mother, Elvira Cervera, a solid Cuban actress of Cuban radio, television and cinema. She was also a teacher and a doctor in Pedagogy.

Play: Afrolatinoamericanas. The play is about the struggle of Afrodescendant women in Argentina and Latin America, from slavery until today. Source: Teatro en Sepia.

2. Networking is fundamental for the development of artistic practices. In addition, we are aware that for centuries black people’s organizations have been very important to the freedom-seeking and anti-racism movements. Are you currently part of any company, artistic collective and / or artist network? Talk a little bit about building these networks, please.

NASFA NCANYWA

I am not part of any organization or network, but I read about the ones who voice out about Black existence; my experiences in different spaces also help me collect information. Theater visits also help me and having conversations with theater makers who create work with the same context. I think as theater makers collaborations with movements and Foundations who are the voice of Black existence/importance and anti-racism is necessary. In the future I am looking forward to writing projects to involve them because theater is for people. 

AGRINEZ MELO

As I mentioned above, I have been part of the O Poste Soluções Luminosas group since 2006. Before it was me and Naná Sodré and then Samuel Santos joined. Together we are huge, we have a cultural space that we maintain with great difficulty because we have little support. There, we put on our shows and performances of the artistic class of the state of Pernambuco and of national and international ones. In the O Poste space, we offer training, we have the Theatrical Anthropology school, and we hold independent courses throughout the year. O Poste, as a group, researches anthropological theater and bases its interpretation in training sessions centered on African heritage. We have a research called The Ancestral Body within the Contemporary Scene. Through the group, I have been strengthened to take off on my own ventures. O Poste has given me the strength and security to set up my show and open a cultural production company, A DoceAgri, which encompasses my individual ventures in costume design, accessibility, and theater.

O Poste is our Fortress and our Quilombo!

FERNANDA DIAS

After the reflections cited in the previous answer, several windows opened and I joined with other people, black men and women, so that together we could open doors previously blocked by racism. Currently I am active in three groups: Cor do Brasil, formed by black men and black women, and the Madalena Anastacia Group, formed by black women, both active in the Theater of the Oppressed. The Coletivo negraação is the newest group I joined, formed in 2016, works in the field of black dance and was born from the concern of a group of artists to realize the lack of spaces, practical and theoretical content about Brazilian black dances. This lack and misinformation leads to the separation of artists who work with black dance but do not connect with each other although they transit by the same reference.

ALEJANDRA EGIDO

The Sepia Theatre Company (TES) was created in 2010 by director and actress Alejandra Egido, with the aim of working from the performing arts to break the historical indifference and forgetfulness of the presence of the descendants of enslaved people in Argentina. We think about the Afro-descendants of past or contemporary migrations who live in Argentine territory. We work, mainly, against the oppression suffered by black women in the country.

That is why we have among our main objectives to expose, through art, the problem of negation and invisibility of African-descendants in a country that considers itself exclusively «coming from the ships» that brought European immigrants at the end of the 19th century. TES aims not only at artistic production, but also aims to generate in the community various degrees of (self) reflection through the search and exploration of new expressive paths.

In this sense, it is important that the audience be affected, through the poetic discourse of theater, and recognize the dominant discourse of Argentine whiteness that causes both the invisibility and the general forgetfulness of blackness, as well as stigmatization and discrimination. We don’t want a crystallization of exoticism, but the creation of a shared space of dialogue, of reunion of a repressed narrative that few carry as «memory», but most carry as «forgetfulness». It is a gathering that takes body, mind, and words to change our perceptions and flow us beyond the «racial» boundaries imposed by power groups. It aspires – through putting social dramas / performances into play – to gain space for public discussion and provide tools of empowerment for the marginalized population through artistic reflection.

3. In your work you can see that the themes are directly related to black issues occupy a central place. Considering this aspect, how do you evaluate the theatrical contexts of the regions in which you live and the impacts of your plays on these territories?

NASFA NCANYWA

I am a young Theater Maker and I am also a Visual artist; I have been tracing the archives of the Black nations that existed in the past, in the present and what is possible to the future. In terms of my country and what exist through the past I have noticed that there is a sudden silence and a cover up with Democracy. In my recent work I have used that to be the element of what drove the narrative. Staging what is sensitive and suddenly shutted by the country. The impact of my work is to relook the present moment of the country in relation to the archives. 

AGRINEZ MELO

Everything I do is related to my roots, which are black and indigenous. In Recife, I make myself visible through my work, speeches, and positions. My shows are all very strong. Whether when I act or direct, they are overwhelming. This frightens those who are not used to seeing black people on stage talking about their place and their poetry.

I, as an artist and component of the group O Poste, can say that we have been quite excluded from festivals and calls for proposals. But by closing one door, we open other windows: From being excluded from festivals so much, we created our own, to give visibility to our work and that of several other artists with similar situations.

But as a black artist, I am still excluded. I suffer every day attempts to make my art invisible. And, thus, I myself make my production flow, throughout the state of Pernambuco and beyond. It is not easy, but necessary. Today I believe that I am seen with respect by the theater community in the places where I have been, but, unfortunately, there is still a long way to go.

I am driven by stubbornness (I am Capricornian! (laughs)) and the need to tell the world that I exist.

FERNANDA DIAS

Unlike previous years, from 2015 on, it has been more recurrent in the Rio de Janeiro scene the presentation of artistic works addressing Black issues. This has served to encourage and drive that, increasingly, other works can be staged. The impacts can be perceived not only on the stage, with the number of works presented; but also in the awards, which have been granted to Black artists and their works, in the critics who, still in a colonized way, have tried to dedicate themselves to the production of writings about Black creations, in the production of books by Black authors. Finally, even though in short and colonized steps, and with several issues that need to be debated and transformed, the artistic productions and their impacts have brought sunny moments for Black themes and their artists.

ALEJANDRA EGUIDO

We perform all of our shows in the theater-debate modality, because we detect that the general public is unaware of Afro reality in general. We use this modality in national and international presentations because we detect the same problem: For the social imaginary, national and international, «there are no black people in Argentina».

4. Brazilian plastic artist Rosana Paulino, in 2016, on the Geledés website, said the following: “the Brazilian artistic system is very colonized”. Thinking of this statement by Rosana, consequently, the artistic system has been composed of works in which black people are depicted in a dehumanized way. How do your works extend or oxygenate the representation systems from the way you build your characters?

NASFA NCANYWA

My work traces the time frame of Black dehumanized black bodies through history. I resonate with what Rosana Pauline had mentioned, I always felt that the South African artistic system is very colonized. I felt that in my first year of study, Black ancestors have been erased with their stories. I feel it is time to trace the Black voice within our profession even if the research is out of these institutions. 

A scene from the play Lomzimba uyabhidla.The play explores the traumas of apartheid that continues to haunt black people in South Africa, the impact that it has on their bodies and way of being in life. The production was created at the University of Cape Town, the Centre for Theatre, Dance and Performance Studies and was later staged at Theatre Arts Admin in Observatory Cape Town. Photo: Rob Keith.

AGRINEZ MELO

My characters have a place of speech. This is very serious. To have to tell the world that my characters have a place of speech is a counterpoint of existence. But that’s how it is: resisting to exist.

My characters have a high degree of complexity because they come from the search for their origins to their materialization. As I believe in a dramaturgy that comes from the body, from scores to its construction, the written text comes later, or it fits into the body created and both are molding each other. This is the way I discovered to strengthen and give life to the beings I show in the theater. This is also the direction I take in guiding my actors in their constructions.

Forgetting your origins is an easy way to colonize. If you don’t know who you are and where you come from, you are at the mercy to accept whatever they say as an absolute truth, without contesting it. This is the way I find to not let them colonize the beings I create on stage: by creating base, strengthening and humanizing the characters.

This can be used to interpret maids and queens, prostitutes, slaves, doctors…

Humanizing everyone.

FERNANDA DIAS

In 2010, I had the opportunity to take my first trip out of the country. I went to Senegal. At the time, I was participating in the 3rd World Festival of Black Arts and Cultures. The trip was a revolution in my thoughts, as far as the arts were concerned. In all artistic fields, blackness received the spotlight and praise: music, cooking, fashion, dance, theater, literature, handcrafts and other expressions. Back in Brazil, I asked myself: «Why isn’t it like this here?  In 2015, I returned to Senegal to study dance at Ecole Des Sables and I came across the matriarch Germaine Acogny, a black dancer who developed a technique, a dance style uniting the traditional and contemporary. Since 2010, besides theater, dance has been one of my passions and, whether in the construction of a character or the development of choreography, the movements of black dances are always the basis of the productions in which I am involved. In this way, I bring to the scene references from the African black diaspora being used in other ways, in different contexts than the ones we are used to.

ALEJANDRA EGUIDO

It is our goal to tell, through the staging of our work, the current reality of black women, to expose the racial, class, and gender inequalities we suffer.

To give these Afro characters a main role, the heroines, who in traditional works would be occasional characters. We also choose to unmask the thousands of faces that present racism.

5. What stories have not been told yet and would like to tell in the theater?

NASFA NCANYWA

I have become an activist and I am a spiritual person; I have noticed that I collect stories in a physical and spiritual sense. In my country there are many places with Black archives both good and bad. I have spent my high school and University years traveling from the Township to Town. I have sensed energies when I travel, seeing different people I encounter in my journey. I want to open up more of Black bodies traveling from one place to another for a living and how they feel about these different places. How they exist differently in these spaces affected by the past, the present moments and what is to come for the Black nation. I am planning to create a multidisciplinary theater work based on Black bodies who exist out of the African continent.

AGRINEZ MELO

What a difficult question!

I would like to tell them that the slavery of my people is over. That I can walk the streets without fear of being raped, that my son walks the streets without fear of being mistaken for a criminal because he has darker skin. I wanted to tell a story where my daughter won’t suffer any mocking for having curly hair and that she won’t need to say that she is strong, because everyone will already know that.

I wanted to tell the story that people have managed, through intelligence and wisdom, mutual respect and gratitude, taking into consideration their differences.

FERNANDA DIAS

It is difficult to say because the themes are broad. In 2019, I premiered the show Meus Cabelos de Boabá (My Hair of Boabá), written by me and directed by Vilma Melo – the first BLACK ACTOR to win the Shell Award. The play shows some of the impacts racism can have on a girl’s life. How it affects adolescence and adulthood, and how values emanating from a mother, grandmother, and great-grandmother can make a difference in this trajectory. The proposal for the new work that is still being elaborated is to talk about herbs, about the richness brought by the black men and women and indigenous people, and how they are present in our day-to-day lives, although they are not given the importance they deserve.

ALEJANDRA EGIDO

Last year I directed and premiered a play in the reading theater mode, How Much Do You Charge? by Afro-Dominican author Ingrid Luciano. We are seven Afro actresses and the theme is the Afro-migrant woman and how she must fight against a society that only associates her and sometimes condemns her to prostitution.

I think it would be interesting to do a work of cultural exploration from the stage, I don’t know what will be the reality of the other Afro-theatrical performers consulted, but in our case to do something like this we would need an economic budget that would allow us to dedicate time to research and also to live. Almost all Afro-theatrical performers in Argentina.

Besides being very few, we work on two three different things to live and be able to do theater.

SECOND PART

Thinking of the opportunity to bring together black actresses from Brazil, Cuba, and South Africa to build transatlantic and artistic ties in this interview, we invite Agrinez Melo, Alejandra Egido, and Fernanda Dias to each ask director Nasfa Ncanywa a question. Likewise, I ask Nasfa to ask the mentioned artists a question.

NASFA NCANYWA

I would like to ask Agrinez Melo, Alejandra Egido, and Fernanda Dias if they have created jobs or played roles that explore African separation through the language they use in their countries and trace their ancestral language and how this affects their identity. If so, how have they encountered this process? If not, would they be interested?

ANSWERS

AGRINEZ MELO

I usually walk the road back, recognizing where I came from so I can walk. This makes me reaffirm myself as a black woman and a black artist. I know very well what my rights, my duties, and the flag that I need to raise. I know the burdens and the bonuses of all this. Within all my work, I try to make this return. From my show, Histórias embroideradas em mim, to the use of the Yorubá language, because I am also a candomblecist. In my shows, I always try to introduce something that is related to my [African] matrix.  Umbela is another show – my partner and Naná Sodré, from Grupo Poste, are performing with me – in which we speak in Portuguese and Umbundu. In it we situate ourselves in Brazil and return [to Africa].

The show Umbela was a breakthrough because we faced the challenge of a text that is not theatrical. It was an epic text. Me, Naná and Samuel got together to do it and transform it into a theatrical text. It is by an Angolan named Manuel Rui. Umbundo is a language of the [African] matrix, but it is a dead language. Not even the people of Angola know Umbundo very well. At least not the younger ones. This has a great impact because we are forgetting where we came from. Even the countries that we have as countries of [our] origin are also forgetting their languages and speaking the language of the colonizer. And then we decided to rescue this. And the rescue of this language, for me, came as a rescue of myself, as an artist and a black woman, to really know where my origins are. It was very impactful and exciting. This retaking was a very difficult process because we are very used to the colonized language. And we were told that this was the right language. In fact, this non-recognition of the mother tongue is more of an attempt at erasure.

FERNANDA DIAS

In Brazil, more specifically in Rio de Janeiro, the predominant language spoken is Portuguese, the language of the colonizers. In my 23-year career, all the shows I have performed in have used Portuguese.

Starting in 2010, I began research about dances of the African matrix. The black language and aesthetics became very present in my performances. This became more evident after my visits to Senegal and Cuba. Both visits had involvement with the performing arts.

The result of this research and these trips to Senegal and Cuba was the play My Baobab Hair (Meus Cabelos de Baobá), a theatrical text that I wrote in 2017 and 2018 and started staging in 2019. In fact, the spoken language remains that of the colonizer as I did not learn another one. However, the body language and symbolic language is all based on African matrices. Some words in Yoruba punctuate the work, sectoring it in time and space.

Play » My Hair of Baobab (Meus Cabelos de Baobá)». Source: Fernanda Dias.

ALEJANDRA EGUIDO

My theater company works in Argentina, for an Afro-Argentine and a non-Afro-Argentine audience. The company is made up of Afro-Argentine and Afro-descendant actresses. We are all black women, and for this reason our theatrical works, on stage, address the current conflicts that Afro-descendant women face in the country. With this, we seek to combat the social invisibility that denies the current presence and history of Afro-Argentine and the current presence and history of the other Afro-migrations that arrive in the country.

It is about present-day Afro-female characters facing conflicts of today and [how it is possible] to disturb the social imaginary that believes that Afro-descendants in Argentina only existed in colonial times.

When it comes to the Afro audience that attends our works, they feel identified with the currency of our issues.  So it heals and, in some way, as an ethnic group, it gains strength. We use a clear, colloquial, and sometimes poetic language to express ourselves theatrically.

I also see that we are different categories of interviewees. Two Afro-Brazilian colleagues who do theater in Brazil. Another African colleague who also does theater in her country. And me, who is an Afro-migrant theater actress, who uses my Cuban theater training to deal with the oppressions of my Afro peers on stage. I think that the theatrical themes that I and my companions in Argentina present in our works are unusual in the Argentine theatrical universe.

I avoid using Cuban expressions so as not to cause confusion. We put our show together, researching the subject matter we are going to perform.

About the Afro-artistic productions and the economic aspect that should accompany their realization, I add that Afro-theatrical performers and Afro-artists, in general, on the occasion of being in the International Decade of Afro-descendants (resolution UN-68/237) – 2015 -2024, being the theme of the International Decade «Afrodescendants: recognition, justice and development» – we should demand from the Ministries of Culture of our countries programs and calls for proposals that promote and stimulate the development of our artistic activity through different lines of subsidies. Or synergies could be created with Universities or other entities that contribute with financing for Afrodescendant creations.

THIRD PART – QUESTIONS TO NASFA

FROM AGRINEZ MELO

Sometimes I have the impression that the pains and joys of the black women of the world, if not equal, are very similar. And artists have an even greater point of connection: art. I could ask what it is like to be a black woman and artist in your shoes, but I won’t. It even seems like I already know the answer. Based on this, I would like to know if you have ever thought about strengthening transatlantic ties with other women, black artists in the construction of a work that would make our voices flow?

Nasfa Ncanywa: 

I would like to have a conversation with other Black women and really hear what they think about that because even though we are Black women, I am sure we have different questions and burning emotions about being a Black woman existing in the 21st Century. In my first attempt at creating a project as a theater-maker, I explored an African diaspora theme at Makukhanye Art Room for AWE (Amazing Women Event) which was curated by Mandisi Sindo and Mbulelo Grootboom, and that very same project recently made sense to me after packing it away for 3 years. I am now planning to develop it as a full-length play.  For me working with other Black women would be more than just a body of work created by Black women with different backgrounds across the world but creating a space/community of creation for young upcoming African women creators. 

FROM FERNANDA DIAS

What is your creative process like, when it comes to creating a theatrical work, and how would it be for you to unite your artistic and intellectual knowledge with a Brazilian actress for the creation of a theatrical work or performance?

Nasfa Ncanywa:

To be honest, I have worked on projects while I was still a student at UCT as a theater maker and most of my process approach have been influenced by directors who have directed me but I am now in a process of reflecting and listening to my own voice and that leading me into my own process of creating. For now, if I were given the opportunity to work with a Brazilian actress I would incorporate the process by consulting my ancestors to lead me through the process because I believe that would be a homecoming for the actress by working with me, and then the rest would follow creatively on the rehearsal space. As much as we are creators I believe with our craft we can be unconsciously tracing African archives and we should acknowledge that to lead us into the core of the stories we tell. 

FROM ALEJANDRA EGUIDO

Do you know if there are any African theater shows that have the Atlantic slave trade as their theme? And if so, can you tell us which ones

Nasfa Ncanywa:

There are two productions that explored slave trade themes created by theatre companies in Cape Town, like Cargo which was directed by Mark Fleishman and created by the Magnet Theatre company performed by Jennie Reznek, Faniswa Yisa, the Jazzart Dance Theatre, and members of the Jazzart Dance Theatre Young Adult Training and Job Creation Programme in 2007. Cargo is a production that traces slavery archives within the city of the Cape in South Africa using movement as their major language of the production. Mandla Mbothwe’s body of works also explores themes relating to African slavery with the production of Mendi / Did we dance which have been re-imagined in different spaces and cast throughout the years. The series of this project use the African traditional element that is most used in real ceremonies as the performance language. 

Notes

(1) Dancers and stage assistants from the Brazilian TV show Cassino do Chacrinha. During the 1980s, this program was one of the main attractions in Brazilian families.

(2) Dungeons & Dragons and Thundercats were two American cartoons shown on Globo Network television. They were first shown in Brazil in the 1980s. Diana was the only black character in the cartoon.

(3) Hair of fuá: In most dictionaries, the word fuá has very negative connotations

(4) In Brazil, candomblé temples are called casas, roças or terreiros.

Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *

Este sitio usa Akismet para reducir el spam. Aprende cómo se procesan los datos de tus comentarios.