
Ir al artículo en español
Contemplar Jucirene Nascimento em uma dança com passos fortes e movimentos de braços leves refere-se a uma conexão ancestral que veio de outra terra e criou raízes em outros mundos. Suas raízes diaspóricas de povos ancestrais reverenciam, através da dança, as lutas de mulheres de outros tempos; as lutas de Dandara, Tereza de Benguela, Maria Helena Moyano e muitas outras que se destacaram no combate à exploração, ao racismo e a diversas formas de opressão.
Nascida na favela de Santa Cruz, nordeste de Amaralina, em Salvador da Bahia, ela carrega o espírito coletivo de sua criação na periferia. Sua resistência contra o racismo que permeia a América Latina foi expressa de diferentes maneiras em sua infância, como a reivindicação de seus cabelos crespos, reafirmando com orgulho e poder sua estética negra, em oposição à ordem colonial imposta.
“Alisar os cabelos, para mim isso era um massacre, massacre dos meus cabelos crespos. Eu sempre quis meu cabelo afro e de adulta comecei a enxergar o racismo que existia nisso. A partir dai eu assumi a postura de nunca deixar ninguém me pisar”
Em Santa Cruz, Jucirene dava aulas para crianças da sua comunidade, fazia alguns penteados e cortava cabelos das e dos jovens. Ela começou a trabalhar em um salão de beleza fazendo unha, mas sempre soube que passaria os próximos anos de sua vida futura em outro lugar.
«Sempre sonhei que iria morar num lugar diferente, mas eu não sabia que lugar era esse. Não fazia ideia que seria no Capão ou na Chapada Diamantina. Eu sabia que existia um lugar neste mundo, que seria um paraíso para mim e que eu iria morar nele. Eu sempre tinha isso comigo, eu sonhava e quando contava ninguém acreditava”.
Há mais de dez anos, Jucirene veio ao Vale do Capão, na Chapada Diamantina, por conta de uma oportunidade de trabalho. Para conhecer a comunidade ela continuou seu trabalho como manicure, enquanto iniciava seu contato inicial, principalmente com o povo nativo do vale, onde também existe uma extensa população de comunidades quilombolas dentro da Chapada Diamantina.
A dança e a ancestralidade
A dança já fazia parte da vida de Juci desde a infância:
“O dançar já vem desde pequena, porque eu sempre gostei de me apresentar, de dançar. Eu sempre disse que eu ia dançar. Tinha um irmão mais velho e ele também gostava de dançar. Aí dançávamos eu e ele juntos. Eu entrava em concursos de dança e eu sempre ganhava!”
Esta foi uma ferramenta em seu processo de integração com as mulheres do vale, onde hoje ela ensina um grupo de mulheres nativas, mas também abre espaço para a participação de pessoas de outros lugares:
«Está aberto para qualquer pessoa porque o sol não somente brilha pra uma pessoa, para um territorio só, brilha para todas nós. Então todo mundo têm que brilhar.”
Grupo de dança Nativas do Vale. Foto: Arquivo pessoal
Através deste brilho que ela estimula em outras mulheres, Jucirene faz parte de um processo que acompanha muitas das suas alunas em uma relação mais íntima com elas mesmas e com o corpo/território. Dançar com Jucirene torna-se um abraço íntimo de si mesma que convida a uma viagem interior feita a partir do coletivo. O convite de Jucirene para aquelas de nós que tivemos o privilégio de dançar com ela é para soltar o corpo e sair do lugar onde algumas de nós ficamos escondidas:
«Vocês podem dançar. Não precisam ficar presas. Tem que se soltar e ver o mundo la fora e o mundo de dentro também. Sempre estar olhando para dentro de vocês, para ver também o que vocês querem da vida.”

Um dos tipos de dança mais característicos de Jucirene é a dança afro, que vem de suas raízes no candomblé, presente em sua família e em sua formação.
«O afro vem da minha mãe, porque minha mãe é do candomblé. Isso já vem de mim e foi no terreiro que eu vi, mas isso vem de dentro de mim. Quando eu danço, as pessoas falam que sai uma coisa de dentro de mim que eu não sei o que é, mas o povo sente. Quando eu danço sinto uma ancestralidade, um poder que vem da minha mãe, dos orixás da minha mãe, e da minha avó.”
O projeto Recicla Capão
Como uma forma constante de pensar na vida, o mundo dos sonhos tem desempenhado um papel importante nos projetos de Jucirene. Foi através de um sonho que a história do projeto Recicla Capão começa. Este sonho revela um desejo que convidou Jucirene a fazer algo importante pelo vale. Naquele mesmo dia, enquanto ela pensava, a idéia chegou até ela de uma forma simples. Naquele dia ela disse: «Eu vou coletar». Questionada por seu marido sobre o que eles iriam coletar, a resposta veio facilmente: «nós vamos coletar reciclagem».
«Eu não sabia fazer nada de reciclagem, mas tudo na vida se aprende. Tudo que a gente não sabe se aprende. Estamos aqui para aprender e assim foi que eu aprendi a reciclar. Eu não tinha nada, mas saí da minha zona de conforto. Eu comprei um carro junto com meu marido, um carro pequeno. Minha cunhada começou a fazer os cartões. Mas como é que ia ser essa coleta? O povo ia separar o seu lixo e a gente iria buscar nas casas sem cobrar nada. Tudo a gente fez assim, voluntário.»

Assim começou um projeto que hoje foi consolidado no vale com os esforços de Juci e a integração coletiva que ela realiza em seus empreendimentos. O aumento do turismo no vale do Capão também aumentou a produção de lixo e resíduos produzidos pelos visitantes e pelas pessoas que lá moram. Juci comenta sobre este aumento, dizendo que já removeram 60 toneladas de resíduos, todos eles separados. Com o dinheiro arrecadado com a venda destes residuos, hoje ela e seu esposo conseguiram comprar um carro maior para continuar removendo o lixo em uma comunidade dentro do ambiente natural da Chapada Diamantina. A coleta parou durante a pandemia da COVID-19, mas foi retomada desde o final do ano passado e ocorre a cada 15 dias.
Rompendo as barreiras do racismo
A luta pela reivindicação de direitos e a exigência de reparação histórica para os povos negros e indígenas é vivenciada diariamente em diferentes territórios da América Latina. Por outro lado, o racismo é naturalizado quando situações de violência secular são normalizadas na vida cotidiana. Falar de racismo significa falar sobre as atitudes conscientes e inconscientes das pessoas, suas expressões individuais e coletivas dentro da sociedade e o papel que cada pessoa desempenha na reprodução dessa violência. Observar atitudes individuais na reprodução do racismo poderia representar uma forma de negação de sua naturalização, e esta recusa em não aceitar o inaceitável atravessa a resistência de Jucirene na luta contra o racismo na vida cotidiana.
Quando sua filha estava na escola secundária, Jucirene lembra como em um dia normal, enquanto uma professora perguntava sobre os sonhos das crianças na sala de aula, ela ficou surpresa quando sua filha disse que queria ser médica.
«Eu sempre disse para minha filha ser o que ela quiser. Só que a sociedade é racista e ela começou a estudar numa escola onde tinham poucas pessoas negras. Eu sempre disse para minha filha para nunca esquecer de onde ela veio, para nunca esquecer suas origens. Quando minha filha falou na escola que queria ser médica, ela foi questionada pela professora e ainda disse que para fazer isso teria que ter dinheiro. Ela respondeu que eu disse para ela que iria catar reciclagem até ela se formar”.
A situação se repetiu, sempre questionando a presença de uma mulher negra em lugares reservados aos brancos. O argumento utilizado, em uma tentativa de mascarar o racismo, foi a classe social. A necessidade de ter dinheiro para realizar o que representava um sonho sempre foi utilizada.
«Eu me senti triste porque escutei isso de pessoas que se diziam meus amigos e se sentiam no direito de falar para minha filha que ela não podia ser médica. Ela pode ser médica, advogada, o que ela quiser. Já disseram que ela não tinha capacidade e questionei o porque. Porque eu trabalho, sou empregada doméstica e cato reciclagem? Pois minha filha vai ser o que ela quer. Minha filha não ia ser empregada doméstica deles».

Desafiando a ordem racista, colonial e patriarcal, a filha de Jucirene é agora uma estudante de fisioterapia. Independentemente da atividade que se decida fazer, a luta contra o racismo e todas as formas de discriminação poderia se expressar em não aceitar ser colocadas nos lugares que o opressor decidiu impor com violência. Ocupar os lugares negados pela sociedade racista é uma exigência que vem das lutas de Dandara e de muitas outras mulheres que abriram o caminho para uma luta permanente.
«Hoje, minha filha é graduanda em fisioterapia. Não podemos ficar com a boca fechada. Não podemos deixar que por medo as pessoas não falem. Preferem engolir o sofrimento do que abrir a boca, mas eu não.”
A união e o cuidado entre as mulheres é uma esperança para Jucirene que se destaca quando ela pensa nas diferentes formas de resistir.
.“As mulheres têm que se abraçar mais, se aproximar mais. Se respeitarem mais, uma acolher a outra porque aqui ninguém é melhor do que ninguém. Temos que nos abraçar e acolher umas às outras sem depender de cor e de raça.»

Jucirene, la danza y las resistencias ancestrales
Por Amanda Martínez E.
Contemplar Jucirene Nascimento en una danza con pisadas fuertes y movimientos de brazos leves remite a una conexión ancestral que vino de otra tierra y creo raíces en otros mundos. Sus raíces disporicas de pueblos ancestrales reverencia, a traves de la danza, la lucha de mujeres de otros tiempos; las luchas de Dandara, Tereza de Benguela, Maria Helena Moyano y muchas otras mujeres que se han destacado en la lucha contra la explotación, el racismo y distintas formas de opresión.
Nacida en la favela de Santa Cruz, nordeste de Amaralina, en Salvador de Bahia, lleva el espíritu colectivo desde su formación en la periferia. Su resistencia contra el racismo que atraviesa a America Latina la expreso de distintas formas en su infancia, como la reivindicación de su cabelo crespo reafirmando la estética negra con orgullo y poder, que se contrapone al orden colonial impuesto.
«Alisarme el pelo, eso para mi era una masacre, una masacre de mi pelo rizado. Siempre quise tener mi pelo afro y ya de adulta empecé a ver el racismo que existía en eso. A partir de entonces adopté la postura de no dejar que nadie me pisoteara.»
En Santa Cruz, Jucirene daba clases a niños de su comunidad, realizaba algunos peinados y cortaba cabello. Inicio trabajando en un salón de belleza de manicurista, pero siempre supo que iria pasar los próximos años de su vida futura en otro lugar.
«Siempre soñé que viviría en un lugar diferente, pero no sabía cuál era. No tenía ni idea de que seria en Capão o en la Chapada Diamantina. Sabía que había un lugar en este mundo, que sería un paraíso para mí y que viviría en él. Siempre tuve esto conmigo, soñaba y cuando se lo contaba a la gente nadie me creía».
Hace más de diez años, por una oportunidad de trabajo Jucirene llego al Vale do Capão, en la Chapada Diamantina. Para conocer a la comunidad continuo su trabajo de manicurista, mientras iniciaba su contacto inicial, principalmente con las personas nativas del Valle, habiendo una extensa población de comunidades quilombolas dentro de la Chapada Diamantina.
La danza y la ancestralidad
La danza ya formaba parte de la vida de Jucirene desde su creación:
«La danza vino desde que era una niña, porque siempre me gustó actuar, bailar. Siempre dije que iba a bailar. Tenía un hermano mayor y también le gustaba bailar. Entonces él y yo bailamos juntos. Solía presentarme a concursos de baile ¡siempre ganaba!».
Esta fue una herramienta en su proceso de integrarse con las mujeres del valle donde hoy en dia es profesora de un grupo de mujeres nativas, pero también se abre espacio para que participen personas de otros lugares:
«Está abierto a cualquiera, porque el sol no brilla sólo para una persona, para un territorio, sino que brilla para todas y todos. Así que todo el mundo tiene que brillar».
Grupo de danza Nativas do Vale. Foto: Archivo personal
A traves de ese brillo que estimula en otras mujeres, Jucirene ha formado parte de un proceso que acompaña a muchas de sus alumnas en una relación más intima con ellas mismas y con el cuerpo/territorio. Danzar con Jucirene se convierte en un abrazo intimo a sí misma que invita a un viaje interior realizado desde lo colectivo. La invitación que nos hace Jucirene, a quienes hemos tenido el privilegio de poder danzar con ella, es a soltar el cuerpo y salir del lugar donde algunas nos quedamos escondidas:
» Ustedes puede bailar. No tienen que sentirse aprisionadas. Hay que dejarse llevar y ver el mundo de fuera y también el de dentro. Mira siempre dentro de ti para ver qué quieres de la vida».

Uno de los tipos de danza mas marcantes en Jucirene es la danza afro, que viene de sus raizes del candomblé, espiritualidad presente en su familia y en su formación.
«La danza afro viene de mi madre, porque ella es del candomblé. Esto ya viene de mí y fue en el terreiro que lo vi, pero viene de mi interior. Cuando bailo, la gente dice que sale algo de mí que no sé qué es, pero la gente lo siente. Cuando bailo siento una ancestralidad, una fuerza que viene de mi madre, de los orixás de mi madre, y de mi abuela».
El proyecto Recicla Capão
Como una forma constante de pensar sobre la vida, el mundo de los sueños ha cumplido una función importante en los proyectos de Jucirene. Fue a traves de un sueño que comienza la historia del proyecto Recicla Capão. Este sueño revela un deseo que invitaba Jucirene a realizar algo importante dentro del Valle. Ese mismo dia, mientras pensaba, vino la idea de una forma simple. Ese dia ella dijo: «voy a colectar”. Cuestionada por su esposo sobre lo qué era qué irían a colectar, la respuesta vino fácil: “vamos a colectar reciclaje”.
«No sabía nada sobre reciclar, pero en la vida todo se aprende. Todo lo que no sabemos lo aprendemos. Estamos aquí para aprender y así es como aprendí a reciclar. No tenía nada, pero salí de mi zona de confort. Compré un carro junto con mi esposo, un carro pequeño. Mi cuñada empezó a hacer tarjetas. Pero, ¿cómo iba a ser esta recolección? La gente separaria su basura y nosotros la recogeríamos en sus casas sin cobrar nada. Lo hemos hecho todo así, voluntariamente».

Es así que inicia un proyecto que hoy se ha consolidado en él valle con el esfuerzo de Juci y la integración colectiva que realiza en sus emprendimientos. El incremento de la actividad turística del valle do Capao también aumento la producción de residuos y basura producida por los visitantes y las personas que allí viven. Juci comenta sobre este aumento relatando que ya retiraron 60 toneladas de residuos, todos separados. Con el dinero arrecadado de la venta, hoy se consiguió comprar un carro mayor para continuar retirando los residuos en una comunidad dentro del contexto natural de la Chapada Diamantina. La colecta paro durante la pandemia de COVID-19, pero esta fue retomada desde ela año pasado y sucede a cada 15 dias.
Rompiendo las barreras del racismo
La lucha por la reivindicación de derechos y la demanda de una reparación histórica para los pueblos negros e indigenas se vive diariamente en distintos territorio latinoamericanos. Por otro lado, el racismo yace naturalizado cuando se normalizan las situaciones de violencia secular que se viven en lo cotidiano. Hablar de racismo significa hablar de las actitudes concientes e inconscientes de las personas, de sus expresiones individuales y colectivas dentro de la sociedad, y del papel que cada persona ocupa dentro de la reproducción de esta violencia. Observar las actitudes individuales en la reproducción del racismo podría representar una forma de negación a su naturalización, y esta negación de no aceptar lo inaceptable atraviesa la resistencia de Jucirene en el combate al racismo que se vive en el dia a dia.
Cuando su hija cursaba la secundaria, Jucirene recuerda cómo en una dia normal de clases, mientras una profesora preguntaba sobre los sueños de los niños y niñas del salón, llamo la atención que su hija expresara que queria ser doctora.
«Siempre le he dicho a mi hija que sea lo que quiera ser. Pero la sociedad es racista y ella empezó a estudiar en una escuela donde había pocas personas negras. Siempre le dije a mi hija que nunca olvidara de dónde venía, que nunca olvidara sus orígenes. Cuando mi hija dijo en el colegio que quería ser doctora, la profesora la cuestionó y le dijo que para ello tenía que tener dinero. Ella respondió que yo le había dicho que yo iba a reciclar hasta que se graduara».
La situación se repitió en otras ocasiones, siempre cuestionando la presencia de una mujer negra en los lugares que son reservados para personas blancas. El argumento utilizado, en el intento de enmascarar el racismo, era la clase social. Se colocaba siempre la necesidad de tener dinero para realizar lo que representaba un sueño.
«Me sentí triste porque escuché esto de personas que se decían mis amigos y se sentían en el derecho de decirle a mi hija que no podía ser doctora. Puede ser doctora, abogada, lo que quiera. Ya dijeron que no tenía la capacidad y cuestioné por qué. ¿Porque trabajo, soy empleada doméstica y recolecto reciclaje? Pues mi hija será lo que ella quiera. Les dije que mi hija no iria a ser la empleada doméstica de ellos.

Desafiando el orden racista, colonial y patriarcal, hoy la hija de Jucirene es estudiante de fisioterapia. Independientemente de la actividad que se decida realizar, el combate al racismo y a todas las formas de discriminación radica en no aceptar ser colocadas en los lugares que la mente opresora ha decidido imponer con violencia. La ocupación de los lugares negados por la sociedad racista es una reivindicación que viene desde las luchas de Dandara y muchas otras mujeres que abrieron camino a una lucha constante.
«Hoy, mi hija es estudia fisioterapia. No podemos mantener la boca cerrada. No podemos dejar que la gente, por miedo, no abra la boca. Prefieren tragarse el sufrimiento antes que abrir la boca, pero yo no».
La union y el cuidado entre mujeres es una esperanza para Juci que sobresale cuando piensa en las distintas formas de resisir.
«Las mujeres tienen que abrazarse más, acercarse más. Respetarse más, acogerse porque aquí nadie es mejor que nadie. Tenemos que abrazarnos y acogernos sin depender del color de piel, de la raza».
Mujer migrante nicaragüense. Feminista, artivista, investigadora y educadora popular. Mi línea de trabajo está basada en temas sobre género y espacio, violencia, pobreza urbana y relaciones espaciales indígenas en el contexto de América Latina. Militante en redes colectivas de mujeres y comunidades donde se construyen luchas contra coloniales, en defensa de la vida y del territorio. Aliada a la lucha por el respeto a la autonomía y autodeterminación de los pueblos.