
Texto e Foto de Fabiana de Pinho
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Algumas palavras sobre o espetáculo Leci Brandão, na palma da mão
Salve ela! Carolina Maria de Jesus em Cena, Companhia Os Ciclomáticos; Elza; Tragam a Cabeça de Lima Barreto, Hilton Cobra; Meus cabelos de Baobá, da Atriz Fernanda Dias; O grande Dia, Confraria do Impossível, O topo da Montanha, Lázaro Ramos, Vozes Negras- A força do Canto feminino, Turmalina 18-50, da Companhia Cerne – que conta a vida de João Cândido-, foram alguns dos espetáculos aos quais assisti nos últimos tempos na cena teatral do Rio de Janeiro. Obviamente que esta é apenas uma parte dos grandes espetáculos que colocam personagens e questões negras no centro da cena e, assim, promovem reposicionamentos cênicos e estéticos.
Dentre uma variedade de linguagens, recursos cênicos, propostas temáticas, dramaturgias e atrizes e atores negros, a vida me trouxe o magnífico espetáculo Leci Brandão, na palma da mão. No fundo do quintal de Leci, acompanhamos a trajetória de uma artista, compositora, deputada, comentarista de Carnaval que, antes de muita gente, já se posicionava contra injustiças sociais, desigualdade de gênero, cultura negra e lutas LGBTQIA+ em suas composições.
A atriz, dançarina e cantora Tay O’Hanna (Segunda Chamada, 3% e Linha Vermelha), em verde e rosa e com presença cênica e vocal impecáveis, interpreta Leci Brandão em todas as suas fases e faces. Com verdejos de esperança cálida e potente, Verônica Bonfim (Elza, A menina Akili e seu Tambor falante, Vozes Negras- A força do Canto feminino), nos brinda com uma Dona Lecy, a mãe de Leci Brandão, que nos abraça compartilhando conosco cada passo de sua filha. Sérgio Kauffmann (Vamos comprar um poeta, Ilha do Farol, A menina com um buraco na mão) é a mediação entre o existir que se transmuta em narratividade e a produção de mundos (en)cantados.
Responsabilidade, referência e reverência exalam dos corpos das atrizes e do ator. Movimentos precisos, fluidos e ternos e, ao mesmo tempo, integrados, fazem parte de uma encenação comprometida com as grandiosas possibilidades da primeira mulher a integrar a ala de compositores da Mangueira. As atuações de Tay, Verônica e Sérgio nos levam a pensar que as biografias teatrais negras necessitam de assinaturas cênicas igualmente negras que se debruçam na ampliação de nossas formas de compreender a infinidade de existires negros. Ou seja: Essas pessoas entendem do riscado, se arriscam e, com isso, riscam o ponto. O que faz muita diferença nos modos de (re)(a)presentar uma biografia como a de Leci.
Depois de abertos os caminhos e os trabalhos pelo senhor das linguagens que comunicam, as histórias que a história não conta são narradas em meio às folhas de Mangueira. Os fios exúnicos (1) nos convidam para aquele quintal que fica lá nos fundos da casa daqueles que sabem fazer uma boa roda de samba girar. É no giro da gira que os itans de Iansã e Ogum (2) se presentificam no conto que é Leci. Eles estão por todos os lados: nas trocas de pele, nos sons, nas letras de músicas, nas folhas, nos afetos, nas roupas, nas proteções, nas esperas, nos cuidados, no cheiro, nas quedas, nos levantes e na voz de uma artista que sempre se comunicou com e pelos cidadãos do trem.
A beleza da vida da menina compositora também é contada pelos músicos, pela iluminação, pelo figurino e pela cenografia. A direção de Luiz Antonio Pilar, a Cenografia de Lorena Lima, a Direção musical de Arifan Junior, a iluminação de Daniela Sanchez são fundamentais para nos proporcionar uma viagem pelo quintal no qual estamos com as mãos espalmadas com as de Leci Brandão.
Por fim, preciso compartilhar um pouco das memórias trazidas pelo espetáculo. A primeira vez eu vi Leci Brandão foi quando eu tinha aproximadamente uns 05 ou 06 anos de idade no Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo (3) dos Palmares na sede da Fazenda Botafogo. Foi durante a inauguração do busto de Candeia, fundador da Escola. Ela foi ao Quilombo outras vezes para fazer shows e eu, bem pequena, a assistia.
A última vez que vi Leci foi neste espetáculo.
De fato, Na palma da mão firma o ponto em um capítulo importante da cena teatral porque traz a espada e o escudo que artistas negras e negros que ajudam a construir subjetividades sensíveis, alegres, justas e dançantes precisam. Não é qualquer aposta dramática que sabe dar o devido lugar a quem sempre soube ser.
Obrigada pelo alvoroço!
Serviço de alto-falante:
O espetáculo Leci Brandão-Na palma da mão está em cartaz no Sesc Copacabana até 12/02, quintas, sextas, sábados e domingos. Comprem com antecedência. Não deixem para comprar na hora porque acaba bem rápido!
(1) Exúnico é um adjetivo que tem referência em Exu.
(2) Os Itans são relatos que narram as trajetórias.
(3) A palavra Quilombo tem perspectiva e significado positivos no sentido de que se refere a sujeitos/as coletivos/as, majoritariamente, negras/os que se juntam, em diferentes momentos históricos e das mais diferentes formas, para construírem maneiras igualitárias de ocupação contrárias ao projeto de extermínio das populações negras. Para além disso, os Quilombos, urbanos ou não, são propostas que visam garantir a existência das vidas negras. É necessário que países como Argentina ressignifiquem esta palavra, retirando-a de um lugar de desqualificação, pois são os Quilombos que promovem a circulação das inventividades e conhecimentos.
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¿QUÉ ES ESO, MI AMOR? ES EL PATIO TRASERO DE LECI BRANDÃO.
Por Fabiana de Pinho
Traducción: Amanda Martínez
Algunas palabras sobre el espectáculo Leci Brandão, en la palma de la mano
¡Salve a Ella! Carolina Maria de Jesus en escena, Compañia Los Ciclomáticos; Elza; Traigan la Cabeza de Lima Barreto, Hilton Cobra; Mis cabellos de Baobá, de la actriz Fernanda Dias; El Gran Dia, Cofradía de lo Imposible, El techo de la Montaña, Lázaro Ramos, Voces Negras – La fuerza del Canto femenino, Turmalina 18-50, de la Compañía Cerne – que cuenta la vida de João Cândido –, son algunas de las obras que he visto recientemente en la escena teatral de Río de Janeiro. Obviamente, esto es sólo una parte de los grandes espectáculos que sitúan a los personajes y los temas negros en el centro de la escena, y promueven así el reposicionamiento escénico y estético.
Entre una variedad de lenguajes, recursos escénicos, propuestas temáticas, dramaturgias y actores y actrices negros, la vida me trajo la magnífica obra Leci Brandão, en la palma de la mano. En el patio trasero de Leci, acompañamos la trayectoria de una artista, compositora, diputada, comentarista de Carnaval que, antes que muchos, ya se posicionaba contra las injusticias sociales, la desigualdad de género, la cultura negra y las luchas LGBTQIA+ en sus composiciones.
La actriz, bailarina y cantante Tay O’Hanna («Segunda llamada», «3%» y «Línea roja»), de verde y rosa y con una presencia escénica y vocal impecables, interpreta a Leci Brandão en todas sus fases y caras. Con una esperanza cálida y poderosa, Verônica Bonfim (Elza, La Niña Akili y su Tambor Hablante, Voces Negras – La Fuerza del Canto Femenino), nos brinda con una Doña Lecy, la madre de Leci Brandão, que nos abraza, compartiendo con nosotros cada paso de su hija. Sérgio Kauffmann (Vamos a comprar un poeta, Isla del Farol, La niña del hoyo en la mano) es la mediación entre el existir que se transmuta en narratividad y la producción de mundos (en)cantados.
Responsabilidad, referencia y reverencia destilan de los cuerpos de las actrices y del actor. Movimientos precisos, fluidos y tiernos, a la vez que integrados, forman parte de una puesta en escena comprometida con las grandiosas posibilidades de la primera mujer que integró el ala de compositores de Mangueira. Las actuaciones de Tay, Verônica y Sérgio nos llevan a pensar que las biografías teatrales negras necesitan firmas escénicas igualmente negras que se centren en la expansión de nuestras formas de entender la infinidad de existencias negras. En otras palabras: estas personas saben de lo que hablan, asumen riesgos y, con ello, ponen los puntos sobre las íes. Lo que supone una gran diferencia en las formas de (re)presentar una biografía como la de Leci.
Después de abrir los caminos y los trabajos del señor de las lenguas en las que se comunican, las historias que la historia no cuenta se narran entre las hojas de Mangueira. Los hilos exúnicos (1) nos invitan a ese patio trasero de la casa de los que saben hacer girar un buen círculo de samba. Es en el hilado de la rueda donde los itans de Iansã y Ogum (2) se hacen presentes en la historia que es Leci. Están en todas partes: en los cambios de piel, en los sonidos, en las letras de las canciones, en las hojas, en los afectos, en la ropa, en las protecciones, en la espera, en el cuidado, en el olor, en las caídas, en las sublevaciones y en la voz de un artista que siempre se comunicó con y a través de los ciudadanos del tren.
La belleza de la vida de la niña compositora también la cuentan los músicos, la iluminación, el vestuario y la escenografía. La dirección de Luiz Antonio Pilar, la escenografía de Lorena Lima, la dirección musical de Arifan Junior, la iluminación de Daniela Sanchez son esenciales para proporcionarnos un viaje por el patio trasero en el que estamos con nuestras manos entrelazadas con las de Leci Brandão.
Finalmente, tengo que compartir algunos de los recuerdos que me ha traído el espectáculo. La primera vez que vi a Leci Brandão fue cuando tenía unos 5 ó 6 años, en el Gremio Recreativo de Arte Negra de la Escuela de Samba Quilombo (3) dos Palmares, en la sede de la Hacienda Botafogo. Fue durante la inauguración del busto de Candeia, fundador de la escuela. Otras veces iba al Quilombo a hacer espectáculos y yo, muy joven, la miraba.
De hecho, En la palma de la mano marca una pauta en un capítulo importante de la escena teatral porque aporta la espada y el escudo que necesitan los artistas negros y negras que ayudan a construir subjetividades sensibles, alegres, justas y danzantes. No es cualquier apuesta dramática la que sabe dar el lugar que se merece a quienes siempre han sabido ser.
¡Gracias por el revuelo!
Servicio de altavoces:
El espectáculo Leci Brandão-En la palma de la mano se presenta en el Sesc Copacabana hasta el 12/02, los jueves, viernes, sábados y domingos. Compre con anticipación. ¡No dejes para comprarlo en el momento de la presentación, porque se agota muy rápido!
(1) Exúnico es un adjetivo que hace referencia a Exu.
(2) Los Itans son historias que narran trayectorias.
(3) La palabra Quilombo tiene una perspectiva y un significado positivo en el sentido de que se refiere a sujetos colectivos, en su mayoría negros, que se unen, en diferentes momentos históricos y de las formas más diversas, para construir formas igualitarias de ocupación contrarias al proyecto de exterminio de las poblaciones negras. Los quilombos, urbanos o no, son propuestas que pretenden garantizar la existencia de vidas negras. Es necesario que países como Argentina resignifiquen esta palabra, sacándola de un lugar de descalificación, porque son los quilombos los que promueven la circulación de la inventiva y del conocimiento.
Fabiana de Pinho, Mulher negra, Professora, filiada à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, Doutora em Literatura, Cultura e Contemporaneidade com pesquisa sobre literatura negro-brasileira de autoria feminina faz questão de afirmar que este texto inacabado foi escrito na companhia teórico-empírica de bell hooks, Grada Kilomba, Lélia González, Anny Ocoró Loango, Camila Daniel, Sueli Carneiro, Neuza das Dores Pereira, Fernanda Felisberto, Denise Brazão, Maria José de Pinho, Djamila Ribeiro, Bruna Stamatto, Cidinha da Silva, Conceição Evaristo, Selma da Silva, Regina Húngaro, Eliana Alves Cruz, Lia Vieira, Miriam Alves, Fátima Lima, Ana Cruz, Edmeire Exaltação, Bia Onça e muitas outras.