Foto: Melissa Springer

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No mais recente lançamento de Dráuzio Varella, o livro Prisioneiras, logo no começo temos uma descrição muito minuciosa de como é o prédio histórico, projetado na década de 1920 com “muralhas majestosas como fortalezas medievais”, onde se lê “Instituto de Regeneração”. Assim somos apresentadas, pouco à pouco, ao ambiente do Presídio Feminino da capital, localizado em São Paulo.

Também podemos ver fotos de sua estrutura externa e interna e das ocupações principais de quem lá trabalha e cumpre pena. Segundo o autor, as divisões internas refletem as interações entre estas mulheres: “um labirinto de grades formando gaiolas, um emaranhado de fios ligando velhos computadores na recepção. Equipamentos obsoletos tanto quanto a falácia de que este modelo de presídio recupera a conduta de alguém”.

Além disso, tal ambiente foi projetado para homens e passou a receber mulheres sem qualquer adaptação para acolhê-las. Para ele, a única semelhança percebida nos atendimentos em presídios masculinos e femininos é a quantidade de doentes e seu acúmulo de queixas de saúde.

Entre as muitas diferenças, o doutor Dráuzio nos apresenta que, em liberdade ou aprisionados, homens são muito atentos à hierarquia: cumprem as ordens dos superiores com o mesmo rigor com que exigem obediência de seus subordinados. Segundo ele, a mulher é mais avessa à submissão aos superiores; desde criança aprende a subverter a ordem, de forma a moldá-la aos ensejos pessoais sem dar a impressão de rebeldia, se possível. As relações de mando adquirem complexidade incomparável no caso das mulheres porque as emoções entram em jogo com o mesmo peso da racionalidade.

Outra característica do presídio feminino é a constante gritaria e solidão. A maioria das mães proíbem a visita das crianças por considerarem o ambiente impróprio, enquanto adultos tampouco as visitam, mesmo que elas vivam décadas lá dentro.

A escrita de Dráuzio Varella é fluída, direta e as vezes até engraçada, quando ironiza com sensibilidade algumas situações, mas na maior parte do livro suas palavras relatam dramas da vida de mulheres que alegam ter se envolvido com o crime enganadas (por «companheiros» na maioria dos casos) ou desenganadas da vida (pela miséria em que viviam, principalmente).

O sentimento, durante a leitura, oscila entre a revolta e a compaixão a cada caso apresentado em formato de desabafo. Certamente histórias para estar em um livro. Os capítulos «Os filhos» (P.45-49) e «Multiparidade» (P. 50) trazem lágrimas aos olhos logo nos primeiros parágrafos, ao retratar as angústias da maternidade no presídio e ao constatar sua familiaridade com a vida das mulheres na periferia. A presença do crack é outra forte relação.

Incrível é saber como elas ganham a vida na prisão. Há todo tipo de atividade econômica por lá, formais através de empresas lá instaladas sem pagar aluguel nem direitos trabalhistas, e o empreendedorismo individual das mais criativas. A economia na cadeia é bastante movimentada, mas muito abusiva também, itens de higiene pessoal, por exemplo, chegam a quadruplicar de preço.

O ambiente é perverso com todos: presidiárias, famílias e trabalhadoras carcereiras. Ninguém está segura num ambiente que tem sua população aumentada 500% em apenas 14 anos em decorrência na nova lei antidrogas em vigor que gerou uma explosão de prisões de mulheres por envolvimento com o tráfico.

Quando lemos as histórias de vida de algumas delas, nos questionamos sobre o verdadeiro motivo de suas prisões e percebemos como a injustiça social arrasta famílias inteiras à mercê de bandidos e traficantes que as aliciam com facilidade desde muito novas. O caso de amor entre Julinha e Pati, parece um caso de novela: ambas se envolveram no crime por causa de seus companheiros, se desiludiram com os homens, sofreram a separação dos filhos e, ao dividirem cela construíram uma relação igualitária e de cuidado mútuo, compartilhando sonhos simples que pretende edificar juntas no futuro fora da prisão.

A homossexualidade é absoluta nos presídios femininos. Ainda assim, me parece contraditório Dráuzio concluir que no universo prisional as mulheres podem viver sua sexualidade sem enfrentar repressão social, ao mesmo tempo em que ele próprio nos apresenta regras de disciplina que às proíbem de manifestações íntimas em público. Interessante é notar a diversidade de identidade sexual entre estas mulheres, embora ainda percebe-se a reprodução do padrão heteronormativo em que um dos pares (neste caso, a mais masculina) exerce poder sobre a outra.

Nos relatos, é comum a violência sexual presente desde a infância ou adolescência. Revoltante a situação das mulheres presas por servirem de ponte aos companheiros presidiários que às chantageiam ou ludibriam para pagar suas dívidas com traficantes internos ou mesmo para manterem seus negócios na prisão, usando-as como meio de transporte de carga altamente perigosa. Quando são pegas, são facilmente trocadas por outra ponte. As desilusões amorosas são pano de fundo de suas histórias. A violência doméstica também.

Em algumas poucas passagens senti algum conservadorismo na análise do doutor Dráuzio Varella, mas é inegável a clareza com que nos apresenta o funcionamento do mundo do crime e das cadeias num relato muito emocionante. Algumas passagens pediam calma pra respirar, outras para imaginar a cena do crime, tão bem narrada ao seu estilo as vezes sério, as vezes irônico.

Uma leitura que inaugura em mim o interesse em estudar melhor o sistema carcerário brasileiro e sua história.

Boa leitura!

 

¿Como es la vida de mujeres encarceladas?

 

Traducido por Helena Silvestre.

En el más reciente lanzamiento de Dráuzio Varella, el libro Prisioneras, al principio tenemos una descripción muy detallada de cómo es el edificio histórico, proyectado en la década de 1920 con «murallas majestuosas como fortalezas medievales», donde se lee «Instituto de Regeneración». Así somos presentadas, poco a poco, al ambiente de la cárcel femenina de la capital, ubicada en São Paulo.

También podemos ver fotos de su estructura externa e interna y de las ocupaciones principales de quien allí trabaja y cumple pena. Según el autor, las divisiones internas reflejan las interacciones entre estas mujeres: «un laberinto de rejillas formando jaulas, una maraña de hilos que conecta viejas computadoras en la recepción. Equipos tan obsoletos cuanto la idea de que este modelo prisional recupera la conducta de alguien «.

Además, tal ambiente fue proyectado para hombres y pasó a recibir mujeres sin adaptación para acogerlas. Para el autor, la única semejanza percibida en las atenciones en cárceles masculinas y femeninas es la cantidad de enfermos y su acumulación de quejas de salud.

Entre las muchas diferencias, el doctor Dráuzio nos presenta que, en libertad o aprisionados, los hombres son muy atentos a la jerarquía: cumplen las órdenes de los superiores con el mismo rigor con que exigen obediencia de sus subordinados. Según él, la mujer está más pendiente a la insumisión a los superiores; desde niña aprende a subvertir el orden, para moldearla a las necesidades personales sin dar la impresión de rebeldía, si es posible. Las relaciones de mando adquieren complejidad incomparable en el caso de las mujeres porque las emociones entran en juego con el mismo peso de la racionalidad.

Otra característica del presidio femenino es la constante gritería y soledad. La mayoría de las madres prohíben la visita de los niños por considerar el ambiente inapropiado, mientras que los adultos tampoco las visitan, aunque vivan décadas allí adentro.

La escritura de Dráuzio Varella es fluida, directa y a la vez hasta divertida, cuando ironiza con sensibilidad algunas situaciones. Pero, en la mayor parte del libro sus palabras relatan dramas de la vida de mujeres que cuentan haberse involucrado con el crimen engañadas (por «compañeros» en la mayoría de los casos) o desengañadas de la vida (por la miseria en que vivían, principalmente).

El sentimiento, durante la lectura, oscila entre la revuelta y la compasión a cada caso presentado en forma de desahogo. Seguramente historias para estar en un libro. Los capítulos «Los hijos» (P.45-49) y «Multiparidad» (P. 50) traen lágrimas a los ojos en los primeros párrafos, al retratar las angustias de la maternidad en la cárcel y al constatar su familiaridad con la vida de las mujeres en la vida periferia. La presencia del crack es otra fuerte relación.

Increíble es saber cómo ganan la vida en la cárcel. Hay todo tipo de actividad económica por allí, formales a través de empresas allí instaladas que no pagan alquiler ni derechos laborales, y el emprendedurismo individual de las más creativas. La economía en la cadena es muy concurrida, pero muy abusiva también; los artículos de higiene personal, por ejemplo, llegan a cuadruplicarse de precio.

El ambiente es perverso con todos: presidiarias, familias y trabajadoras carceleras. Nadie está segura en un ambiente que tiene su población aumentada un 500% en apenas 14 años como consecuencia de la nueva ley antidroga en vigor, que generó una explosión de arrestos de mujeres por implicación con el tráfico.

Cuando leemos las historias de vida de algunas de ellas, nos preguntamos sobre el verdadero motivo de sus prisiones y percibimos cómo la injusticia social arrastra a familias enteras a merced de bandidos y narcotraficantes que las alucinan con facilidad desde muy jóvenes. El caso de amor entre Julinha y Pati, parece un caso de novela: ambas se involucraron en el crimen a causa de sus compañeros, se desilusionaron con los hombres, sufrieron la separación de los hijos y, al dividir la celda, construyeron una relación igualitaria y de cuidado mutuo , compartiendo sueños simples que plantean edificar juntas en el futuro fuera de la prisión.

La homosexualidad es absoluta en las cárceles femeninas. Sin embargo, me parece contradictorio el planteamiento de Dráuzio al concluir que en el universo prisional las mujeres pueden vivir su sexualidad sin enfrentar represión social, al mismo tiempo que él mismo nos presenta reglas de disciplina que las prohíben de manifestaciones íntimas en público. Es interesante notar la diversidad de identidades sexuales entre estas mujeres, aunque todavía se percibe la reproducción del patrón heteronormativo en que uno de los pares (en este caso, la más masculina) ejerce poder sobre la otra.

En los relatos, es común la violencia sexual presente desde la infancia o la adolescencia. Es indignante leer sobre la situación de las mujeres presas que están allí por servir de puente a los compañeros presidiarios que las chantajean o engañan para pagar sus deudas con traficantes internos o incluso para mantener sus negocios en la cárcel, usándolas como medio de transporte de carga altamente peligrosa. Cuando son atrapadas, son fácilmente intercambiadas por “otra puente”. Las desilusiones amorosas son el escenario al fondo de sus historias. La violencia doméstica también.

En algunas partes del libro sentí conservadurismo en el análisis del doctor Dráuzio Varella, pero es innegable la claridad con que nos presenta el funcionamiento del mundo del crimen y de sus cadenas en un relato muy emocionante. Algunas partes pedían calma para respirar, otras para imaginar la escena del crimen; tan bien narradas a su estilo a veces serio, a veces irónico.

Una lectura que inaugura en mí el interés en estudiar mejor el sistema carcelario brasileño y su historia.

¡Buena lectura!

 

 

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